domingo, 28 de junho de 2015

CURSO DE AGRICULTURA NATURAL E GESTÃO AMBIENTAL - 2015: AULA 13 - ÁGUA E SANEAMENTO AMBIENTAL

ÁGUA E SANEAMENTO AMBIENTAL

A água para o corpo humano

Quando a injustiça social afeta um grupo, às vezes este, ante sua angústia, declara-se em greve de fome e não ingere alimentos. Há também quem o faça por razões religiosas. Entretanto, dificilmente alguém poderia fazer uma greve de sede, isto é, não beber, pois não conseguiria ver a solução de seus problemas, já que morreria rapidamente. O homem pode perder até 40% de seu peso e não morrer, mas, se perde mais de 20% da água de seu organismo, pode falecer.

O corpo humano é constituído de água, em cerca de 65%:

·      ela se encontra nas células, mantendo-as cheias e túrgidas;
·      na saliva e nos sucos com que o homem digere os alimentos;
·      no sangue, o qual é irrigado e impulsionado a todo o organismo pelo coração, que bombeia 14.000 litros por dia, em média, sem descanso, levando nutrientes e retirando anidrido carbônico e produtos tóxicos que o homem deve eliminar pela urina e pelo suor, senão morreria intoxicado.
A água do corpo cumpre, também, outras funções, como, por exemplo, refrescá-lo. Para tanto, ocorre a transpiração, evaporando a água através da pele, baixando-se, com isso, a temperata. Uma das doenças mais graves é a diarréia, especialmente para as crianças, porque a perda de água pode desidratá-las e provocar a sua morte. Por esses motivos, o homem necessita diariamente de água saudável e limpa para o seu consumo. Somente para beber, precisa de dois a oito litros, conforme sua atividade.

Quando falta água na fazenda, em climas semi-áridos ou com secas, o homem tem, necessariamente, de trazê-la, às vezes, de muito longe. Esse trabalho normalmente é feito por mulheres e crianças, as quais costumam percorrer até mais de 12 km por dia, o que significa esforço, gasto de energia e de tempo que poderiam ser úteis para outras atividades. Isso os mantêm num estado de cansaço que afeta a qualidade de suas vidas. Na maioria das vezes, essa falta de água é produzida por uma má utilização do Ambiente, da geração de mais e mais seca e, com isso, da produção de novos desertos, ou do desconhecimento das técnicas mais adequadas para captar água.

Como a água de má qualidade pode afetar o ser humano

Uma água quimicamente pura não é ideal para beber, pois não contém alguns sais minerais essenciais para o homem. A água poluída pode ter odores e sabores desagradáveis, ser adstringente ou turva, mas não necessariamente será tóxica. Seus efeitos para a saúde aparecerão a longo prazo. A água contaminada, entretanto, tem um efeito rápido sobre a saúde. A contaminação pode ser biológica ou química.

A contaminação biológica deve-se a micróbios levados para a água por animais doentes, ou pelo arraste de excrementos humanos ou animais, por contaminação hidrofecal. Anualmente, no mundo, morrem milhões de pessoas devido a enfermidades transmitidas pela água. Essas enfermidades são de quatro tipos. O primeiro corresponde àquelas em que o micróbio é transportado diretamente pela água, como a hepatite, que ataca o fígado; a febre tifóide, que produz febres muito altas; a amebíase e o cólera, que produzem diarréias, rápida desidratação e podem provocar a morte. O segundo tipo é transmitido por um caracol, peixe ou marisco. Desse grupo, a enfermidade mais temida é a esquistossomose, cujos vermes têm ganchos que se fixam no fígado do homem, produzindo lesões e que o fazem parar de funcionar. Essas pessoas, ao defecarem, lançam ovos que podem contaminar outras pessoas. No terceiro tipo, o micróbio é transmitido por insetos, cujas larvas vivem na água, como os mosquitos. Entre essas enfermidades estão a febre amarela, o paludismo ou malária e a filariose ou elefantíase. O quarto tipo está intimamente relacionado com a água utilizada na higiente corporal, que pode evitar a sarna, a tinha, o tifo e outras enfermidades.

A contaminação química é produzida principalmente pala atividade agrícola:

1.    fertilizantes químicos, agrotóxicos e hormônios, que envenenam a água;
2.    pela atividade industrial: pós e dejetos tóxicos e, em alguns casos, resíduos radioativos que “queimam” o corpo e produzem câncer;
3.    pela atividade mineradora e garimpeira: óleos, ácidos venenosos e mercúrio, que são produtos químicos altamente tóxicos.

Como as alterações ambientais e os hábitos da população rural e urbana afetam a saúde da comunidade

Nas áreas silvestres, existem doenças que ocorrem sem serem contraídas pelo homem. Essas afetam os animais silvestres de forma permanente. Quando o homem vai morar nesses lugares, pode adquirí-las. Isso ocorre se o homem se estabelece diretamente no ambiente natural ou se o modifica, para adequá-lo a outras atividades. Dessa forma, há sempre um certo número de pessoas afetadas nesses lugares por tais enfermidades, as quais, por isso, chamam-se endêmicas. Entre essas, podem-se citar a leishmaniose e a febre amarela. Acredita-se que o HIV, vírus causador da SIDA, vivia originalmente incubado nos corpos de determinadas populações de macacos nas florestas. Com o avanço do desmatamento ocorreu a destruição do habitat natural desses animais e a partir daí o seu contato com os seres humanos foi inevitável o que acabou causando a disseminação da SIDA ao redor do mundo.

Entre os maus hábitos, pode-se mencionar aquele de defecar diretamente na terra. Se a pessoa que o faz está doente, pode eliminar ovos de parasitas e estes podem incubar-se no solo e liberar pequenas larvas, as quais podem penetrar pela pele de pessoas sadias, adoecendo-as. Essas larvas fixam-se nos intestinos, produzindo úlceras, dores e anemia. Adubar a horta com excrementos humanos pode, também, produzir verminose, razão também pela qual essa prática não é incentivada.

O acesso de animais domésticos, como cães e gatos, nas praias e balneários destinados a recreação de banhistas também pode acarretar a disseminação de muitas doenças causadas por parasitas existentes nas fezes desses animais. Em muitos países do mundo esse acesso é proibido para se garantir um ambiente mais saudável às pessoas.

Outro hábito ruim é o de acumular lixo perto de casa, o que atrai ratos e moscas. Os ratos transmitem muitas doenças ao homem e aos animais domésticos, entre elas a leptospirose e a peste. As moscas contagiam com a febre tifóide e a disenteria bacilar. As larvas da mosca causam danos à pele e aos músculos de animais e do homem, tendo em vista que, geralmente, põe os ovos nas feridas.

Como podemos evitar danos à sua saúde produzidos por critérios equivocados de vida e trabalho

Muitas doenças e problemas de saúde pública podem ser evitados com algumas medidas simples, podendo-se, assim, devolver, a uma parte da população, seu bem estar e sua capacidade de trabalho. Uma forma seria, por exemplo, observar muito bem a origem da água e a contaminação que essa possa ter, ainda que usada somente para banho. Se as águas estão contaminadas com resíduos industriais, podem produzir graves alergias e danos à pele.

Sem dúvida, como já foi mencionado, os agrotóxicos danificam a saúde humana. O efeito é diferente, dependendo da quantidade e dos químicos que contenham. Dependendo do químico a ingestão ou uma forte dose recebida pela pele podem levar à morte em poucas horas. Em alguns casos, produz-se, também, a chamada intoxicação crônica, na qual o produto vai-se acumulando pouco a pouco no organismo, produzindo danos lentamente, os quais podem ser confundidos com outras enfermidades. Alguns químicos são de efeito cumulativo – acumulam-se no sangue e quando chegam a uma determinada quantidade, produzem a morte. O agricultor e sua família podem contaminar-se inalando-os, ingerindo-os com os alimentos ou com a água, ou por contato com a pele.

Outros problemas têm sua origem no desmatamento. Deve-se deixar vegetação suficiente para a fauna do lugar, evitando-se, assim, que esta traga alguma enfermidade para as habitações.
Também é importante aterrar ou drenar buracos e limpar canais de irrigação, para evitar a criação de caracóis, mosquitos e outros insetos que possam transmitir doenças.

É uma responsabilidade social educar as crianças sobre esses problemas, como forma de protegê-las. Também é responsabilidade social denunciar às autoridades ambientais e sanitárias sobre problemas do ambiente e da saúde, pois isso permite tomar, oportunamente, as medidas corretivas que correspondam ao município e aos organismos do estado.

Águas servidas e efluentes contaminantes?

Águas servidas são todas aquelas que tenham sido utilizadas e cuja qualidade se tenha deteriorado. Entre elas, encontram-se:

1.    as que foram usadas para lavar e tenham restos de sabão, detergentes e sujeira;
2.    aquelas provenientes dos esgotos das cidades, sujas com óleo queimado de automóveis, resíduos de putrefação, restos de inseticidas domésticos, etc.
3.    as águas já empregadas na irrigação também são servidas e, se a irrigação for mal feita, arrastam fertilizantes, agrotóxicos, terra e germes de doenças dos cultivos.
Os efluentes de esgoto são aqueles que recolhem excrementos humanos e urina. Representam um maior risco de contaminação de doenças infecciosas, especialmente no caso de esgoto de hospitais. Os efluentes industriais carregam diferentes substâncias ácidas e outras muito tóxicas. Frequentemente têm temperatura elevada, o que degrada gravemente a vida aquática.

Esses efluentes impactam fortemente o ambiente. Os rios, lagos, canais e oceanos se vêem afetados. O efeito será muito severo se ultrapassar certo limite de contaminação, já que esses ambientes suportam somente uma determinada quantidade de tóxicos em suas águas e uma maior proporção deles impede que os ecossistemas recuperem suas características normais.

Às vezes, o homem, sem saber, utiliza águas servidas, danificando sua saúde. A fauna, com maior razão, utiliza essas águas, pois não tem outra alternativa.

Para satisfazer as necessidades de água, o homem, lamentavelmente, danifica a qualidade de quantidades muito superiores àquelas que utiliza, e isso não é racional. Tampouco é racional devolver água poluída e contaminada à natureza, como se esta fosse uma lixeira. O homem deve aprender a usar mais responsavelmente esse recurso, em benefício de si mesmo. Deve fazer retornar ao ambiente águas limpas, podendo, dessa forma, contar sempre com águas puras e abundantes na Natureza. Parte importante desse dano pode ser evitado com hábitos culturais, capacitação técnica, preocupação da comunidade e planificação racional do uso que se fará da água.

Que destino deveriam ter os efluentes de esgoto?

Os efluentes de esgotos não deveriam ser lançados diretamente nos rios, nem no mar, por causa do risco de contágio de doenças e porque estes não são nem devem transformar-se em receptores de efluentes sanitários ou local de despejo de lixo. Infelizmente, é isso que ocorre em grande parte do mundo. Os excrementos tampouco devem permanecer no campo, pois podem produzir contaminação hidrofecal.

Há comunidades indígenas pequenas, em equilíbrio com o ambiente, que defecam ao ar livre, e animais saprófagos que comem seus excrementos e os integram ao ciclo biológico. Assim, a contaminação é mínima. Isso já não ocorre atualmente nas fazendas, pois a fauna saprófaga foi, em grande parte, eliminada. Apesar disso, o princípio é válido. Devem-se incorporar esses resíduos a um processo biológico para obter sua reciclagem e, assim, recuperar nutrientes e evitar contaminação.

Uma forma de reciclar os excrementos seria misturá-los com lixo e terra para fermentá-los e transformá-los numa espécie de adubo orgânico. Isso requer técnica para que a fermentação alcance 70 a 75 graus, eliminando os micróbios. Outra forma prática para a machamba é o “banheiro-liteira”. Este consiste em uma “casinha” leve, que é levada de um lugar para outro e instalada sobre buracos de 60 cm de profundidade, para ser usada como vaso. Quando estiver com um terço de seu volume cheio de excrementos, agrega-se lixo orgânico, capins, folhas e talos, até outro terço. Em seguida, acrescenta-se uma pá de cal ou cinza e, por cima, terra retirada de quando se fez o buraco. Enterra-se nesse lugar uma estaca e, depois de três meses, mistura-se tudo e planta-se uma árvore frutífera. Assim, vai-se fazendo um pomar de frutíferas, que estará fertilizado organicamente por muitos anos.

Outro sistema consiste em conduzir as águas escuras a um poço séptico, no qual estas decantam e os líquidos infiltram-se pelo fundo. Dessa forma, há menos risco de contaminação. Algumas cidades têm estações de tratamento de águas escuras, com lagoas destinadas à oxidação e destruição dos resíduos, por fermentação.

Como melhorar a água para o consumo humano

Numa quinta ou machamba, necessita-se basicamente de dois tipos de água. Ambas devem ser limpas, mas deve-se distinguir entre a água corrente destinada a molhar ou lavar os pisos, os vidros, molhar plantas, e a água potável utilizada para beber, preparar alimentos, lavar verduras, frutas e utensílios de cozinha. Filtrando-se a água coletada das chuvas com areia e carvão vegetal, é possível obter água corrente de boa qualidade.

Tendo-se água corrente, pode-se torná-la potável, filtrando-a num pote de argila finamente poroso ou em um filtro de rocha porosa. Esse material deixará passar a água gota-a-gota. Como uma parte da água que molha o filtro se evapora, este se mantém frio e refresca a água. Além de manter-se fresca, a água, ao gotejar num pote de argila, torna-se aerada, melhorando seu sabor e o gosto dos alimentos preparados com ela.

A água assim filtrada ainda pode conter contaminação biológica. Para eliminar os micróbios, é necessário proceder à desinfecção que consiste em adicionar algum produto que tem o poder de matar os germes. Um desses produtos é o cloro (hipoclorito de sódio – “Certeza”), que funciona como um poderoso agente desinfectante.


Outra forma de conseguir a descontaminação biológica é ferver a água por 15 minutos. Se a água não é utilizada em oito horas, deve-se tornar a fervê-la por mais cinco minutos. Para economizar combustível, pode-se usar o calor solar. Para isso, basta pintar de preto, por fora, tachos ou garrafas com tampa. Estas, cheias de água, são postas numa caixa de metal pintada de preto por dentro, a qual é tampada com vidro. Essa caixa é colocada ao sol, onde será aquecida. A cada duas horas, pode-se tirar água descontaminada (sem bactérias) das garrafas e carregá-las novamente com água filtrada. Nesse sitema, a água não ferve, mas alcança de 65 a 75 graus, o que mata a maioria dos micróbios.

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