domingo, 28 de junho de 2015

CURSO DE AGRICULTURA NATURAL E GESTÃO AMBIENTAL - 2015: AULA 14 - INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA AMBIENTAL

O QUE SÃO E ONDE ESTÃO OS MICRORGANISMOS NATURAIS

Os microrganismos habitam o planeta Terra há pelo menos 2,5 bilhões de anos. Quando os primeiros organismos pluricelulares, que deram origem a todos os animais e plantas do nosso planeta, surgiram há mais ou menos 1 bilhão de anos, os microrganismos unicelulares, como as bactérias, já habitavam nosso mundo 1,5 bilhões de anos antes. Com esses números em mente dá para ter a noção de como os microrganismos são antigos e o quão especializados e diversificados são depois de tanto tempo disponível para evoluírem na Natureza. De fato, de acordo com alguns pesquisadores, se considerarmos toda a produção científica feita pela humanidade na área de microbiologia, desde que Louis Pasteur identificou os primeiros microrganismos até os dias de hoje, talvez não tenhamos conseguido conhecer 0,3% dos microrganismos que se acredita existirem no nosso planeta. E talvez ainda, para muitos, esse número percentual pode até ser superestimado, ou seja, existirem na Terra muito mais microrganismos diferentes do que se imagina.

O mundo natural possui, como vimos anteriormente, sua própria complexidade microbiológica. Cada local ou região, com suas características de clima e regime de chuvas, por exemplo, possui sua própria matriz microbiológica do solo. Isto quer dizer que cada local possui, natural e originalmente, vida suficiente para manter seu ecossistema em equilíbrio dinâmico. Nos módulos anteriores dos nossos livros do Curso de Agricultura Natural já tivemos a oportunidade de discutir os fundamentos da prática agrícola que respeita os ciclos naturais. O leitor poderá encontrar naqueles módulos descrições desses fundamentos e mesmo para aqueles que já leram recomendamos uma rápida revisão desses tópicos.

Quando nos deparamos com um ecossistema dinamicamente equilibrado, com a vida pulsando forte em todos os seus níveis tróficos, temos à nossa disposição uma incalculável riqueza microbiológica pronta para nos oferecer inúmeros benefícios. O solo de uma machamba ou mesmo de uma horta caseira onde se pratica a Agricultura Natural de forma correta e plenamente sustentável e ainda observando todos os seus fundamentos como biodiversidade, proteção do solo, presença de grande quantidade de matéria orgânica, presença de arvores diversificadas, água de boa qualidade, etc., é o que podemos chamar de fantástica fábrica de microrganismos eficientes. Uma frase famosa de Louis Pasteur diz que “a importância dos infinitamente pequenos é infinitamente grande”. A parte viva e mais ativa da matéria orgânica do solo é constituída em sua maioria pelos microrganismos e são eles os responsáveis pelo funcionamento do solo. Sem a presença dessa parte viva, o solo seria simplesmente uma mistura de areia, silte e argila. O que faz o solo ser o solo propriamente dito é a vida que há nele. E é possível, com alguma técnica, coletar grupos de microrganismos naturais e eficientes a partir das nossas próprias machambas ou hortas caseiras para produzir suspensões microbianas que poderão nos ser úteis em diversas aplicações, como veremos mais adiante nesse capítulo.

Outra fonte muito interessante desses microrganismos eficientes são as matas e capoeiras relativamente preservadas. A camada superficial do solo desses locais, comumente chamada de serapilheira, contém inúmeras espécies de microrganismos benéficos que poderão fazer parte de nossas suspensões microbianas. Contudo, por razões éticas e ambientais, tenha em mente que a retirada de qualquer fração que seja dessas áreas sem a devida autorização legal ou mesmo de algum estudo prévio de impacto ambiental, poderá por em causa todo o nosso trabalho. A existência de áreas que não sofreram nenhum tipo de degradação pelo homem é cada vez menor, principalmente no interior de muitos países africanos. Não terá nenhum sentido querer recuperar a natureza de um determinado local em detrimento de algum outro. A coleta de microrganismos de solos de matas e áreas protegidas precisa ser feita com muito critério e preferencialmente com a supervisão de algum profissional qualificado da área ambiental.

Também por esse motivo, o ideal é que nas nossas áreas agrícolas deixemos sempre um percentual de área onde a vegetação nativa, incluindo árvores e arbustos, possa se desenvolver plenamente, ou ainda, caso essas áreas já existam num determinado local, preservá-las a todo custo. Essas áreas de reserva são como uma espécie de banco de seguros, onde o agricultor poderá ter à sua disposição inúmeras vantagens, dentre as quais os próprios microrganismos eficientes do local.


QUAIS OS TIPOS DE MICRORGANISMOS EFICIENTES?

Como dissemos anteriormente, os microrganismos constituem a forma de vida mais antiga do nosso planeta. E como tal, são extremamente eficientes para as funções que a Mãe Natureza os programou durante centenas de milhões de anos de evolução. Vamos dar alguns exemplos.

Se um animal qualquer morre na savana, e considerando que nenhum outro animal se alimente dos seus restos, um verdadeiro batalhão de microrganismos entra em cena com a missão de decompor aquela carcaça da forma mais eficiente possível, do ponto de vista termodinâmico. Dadas estas condições, a via normalmente escolhida pelos microrganismos é a chamada putrefação, onde os restos de carne e eventualmente ossos, serão decompostos em estruturas químicas menores, devolvendo ao sistema a energia acumulada ao longo da vida daquele animal. O mesmo acontece com uma árvore caída, uma casca de banana jogada ao chão, nossas fezes, etc. A energia que os seres vivos acumulam ao longo de suas existências e que fica concentrada em seus corpos e resíduos precisa ser devolvida ao sistema natural e os microrganismos possuem a tarefa de levar esse processo adiante. Contudo, principalmente para nós, seres humanos, nem sempre a rota metabólica escolhida pelos microrganismos nos são úteis, ou melhor, nos são favoráveis. Substâncias como as mercaptanas, os sulfetos e inúmeros outros compostos sulfurados oriundos da putrefação de resíduos orgânicos podem até ser prejudiciais à nossa saúde. Isso além do incômodo dos odores putrefados, que tanto nos aborrecem. Além disso, esses compostos ainda atraem moscas e diversos outros animais como baratas e ratos que, por sua vez, funcionam como vetores de inúmeras doenças aos seres humanos, principalmente nos grandes centros urbanos do mundo. Na verdade, todo o processo se desencadeia de forma a distribuir a energia, que antes existia acumulada na carcaça animal ou vegetal, o mais rápido possível. Por essa razão muitos animais são atraídos pelo cheiro podre a fim de facilitar a dissipação daquela energia, como é o caso das moscas. Mas, como dissemos, nem sempre isso se passa de forma agradável aos sentidos humanos, razão pela qual devemos tentar controlar o processo, ou pelo menos parte dele.  




Contudo, não é pelo fato desses microrganismos produzirem compostos indesejados aos seres humanos que eles não sejam considerados naturais e mesmo eficientes. Afinal, como já dissemos, a Natureza os programou há muito tempo para desenvolverem exatamente esses papéis. Por outro lado, temos também diversas outras vias metabólicas desenvolvidas por determinados grupos de microrganismos que podem nos ser muito úteis. Por exemplo, pela via fermentativa, diversos microrganismos podem decompor a matéria orgânica até certo ponto e os seus produtos metabólicos poderão ter diversas aplicações no nosso dia a dia. A fermentação láctica, que produz o ácido láctico, dentre outras substâncias, pode ser conduzida com relativa facilidade e os subprodutos desse trabalho microbiológico poderão encontrar algumas aplicações práticas muito interessantes, como veremos nos capítulos seguintes desse nosso livro.

Contudo, nosso interesse, no contexto do nosso trabalho com a Agricultura Natural e na gestão do meio ambiente, é naquele grupo de microrganismos do solo que nos ajude nas diversas atividades que fazem parte desse trabalho. Sendo assim, estaremos interessados em quatro grandes grupos em particular de microrganismos relacionados a seguir:

As leveduras (Sacharomyces) (1) são fungos que utilizam substâncias liberadas pelas raízes das plantas, sintetizam vitaminas e que ajudam a ativar outros microrganismos eficientes do solo. As substâncias bioativas, tais como hormônios e enzimas produzidas pelas leveduras, provocam atividade celular até nas raízes das plantas. Os actinomicetos (2) produzem antibióticos naturais e assim ajudam a controlar fungos e bactérias patogênicas (que causam doenças), além de ajudarem a aumentar a resistência das plantas. Já mencionamos as bactérias produtoras do ácido láctico (Lactobacillus e Pediococcus) (3) que produzem o ácido láctico que controla alguns microrganismos nocivos como o Fusarium. Pela fermentação da matéria orgânica não curtida (verde) liberam muitos nutrientes às plantas e esse processo é a base da tecnologia social de gestão dos resíduos orgânicos que apresentaremos ao final desse livro. Por fim, temos de mencionar as bactérias fotossintéticas (4) que utilizam a energia solar em forma de luz e calor. Estamos acostumados a relacionar a fotossíntese somente à energia luminosa e isso é verdade quando lidamos com os vegetais. No entanto, as bactérias fotossintéticas desenvolveram um mecanismo especial através do qual absorvem “luz” na região espectral do infravermelho, a qual pode se originar do calor. De outra maneira não faria muito sentido depender apenas da luz solar direta pois bastariam alguns poucos centímetros abaixo da superfície do solo, não iluminado, para o metabolismo desses microrganismos deixar de funcionar. Esse grupo de microrganismos também utiliza substâncias excretadas pelas raízes das plantas na síntese de vitaminas e nutrientes, aminoácidos, substâncias bioativas e açúcares que favorecem o crescimento das plantas. Além disso, ajudam a aumentar as populações de outros microrganismos, como os fixadores de nitrogênio, os actinomicetos e os fungos micorrízicos.    

Os fungos micorrízicos fazem parte de um grupo de microrganismos (Zigomicetos) que formam associações simbióticas mutualísticas com as raízes da maioria das plantas superiores. Estas associações são visíveis a olho nu e assemelham-se a um entrelaçado de fios de algodão finíssimos que nada mais são que as hifas dos fungos mencionados. Essas hifas se entrelaçam com as raízes das plantas aumentando consideravelmente seu volume, ou seja, sua rizosfera. Dessa forma, a planta é capaz de absorver mais nutrientes, tem maior acesso à água do solo e também a diversas substâncias que melhoram consideravelmente seu metabolismo.

Como sempre dizemos, tudo está conectado e no caso da microbiota do solo não é diferente. Não parece ser razoável pensar apenas nesse ou naquele grupo de microrganismos, seja para avaliarmos a qualidade de um solo do ponto de vista da sua fertilidade ecológica, ou até mesmo para encontrarmos as condições mais adequadas para a degradação de um poluente, no solo ou até mesmo na água. De fato, os microrganismos trabalham em conjunto com cada grupo sendo responsável por uma parte do trabalho.


Quando nos propomos a praticar a Agricultura Natural, ecológica em sua essência, temos de levar em consideração não apenas as plantas, o tipo de solo e os animais presentes. A microfauna do solo terá um papel importantíssimo na própria capacidade produtiva do nosso campo natural. De fato, a matéria orgânica que introduzimos no nosso solo tem muito mais a ver com a alimentação dos microrganismos do que com a nutrição das plantas. Por exemplo, a maior parte do nitrogênio que as plantas acumulam em seus tecidos não é oriundo do nitrogênio contido nos restos vegetais e sim da fixação do nitrogênio atmosférico. Porém, isso só será possível pela ação de grupos específicos de microrganismos, os chamados fixadores de nitrogênio. Por essa razão é que temos de manter nosso solo protegido, bem drenado e nutrido, para que esses e diversos outros microrganismos consigam metabolizar as substâncias necessárias para o pleno desenvolvimento das nossas culturas agrícolas naturais.

CURSO DE AGRICULTURA NATURAL E GESTÃO AMBIENTAL - 2015: AULA 13 - ÁGUA E SANEAMENTO AMBIENTAL

ÁGUA E SANEAMENTO AMBIENTAL

A água para o corpo humano

Quando a injustiça social afeta um grupo, às vezes este, ante sua angústia, declara-se em greve de fome e não ingere alimentos. Há também quem o faça por razões religiosas. Entretanto, dificilmente alguém poderia fazer uma greve de sede, isto é, não beber, pois não conseguiria ver a solução de seus problemas, já que morreria rapidamente. O homem pode perder até 40% de seu peso e não morrer, mas, se perde mais de 20% da água de seu organismo, pode falecer.

O corpo humano é constituído de água, em cerca de 65%:

·      ela se encontra nas células, mantendo-as cheias e túrgidas;
·      na saliva e nos sucos com que o homem digere os alimentos;
·      no sangue, o qual é irrigado e impulsionado a todo o organismo pelo coração, que bombeia 14.000 litros por dia, em média, sem descanso, levando nutrientes e retirando anidrido carbônico e produtos tóxicos que o homem deve eliminar pela urina e pelo suor, senão morreria intoxicado.
A água do corpo cumpre, também, outras funções, como, por exemplo, refrescá-lo. Para tanto, ocorre a transpiração, evaporando a água através da pele, baixando-se, com isso, a temperata. Uma das doenças mais graves é a diarréia, especialmente para as crianças, porque a perda de água pode desidratá-las e provocar a sua morte. Por esses motivos, o homem necessita diariamente de água saudável e limpa para o seu consumo. Somente para beber, precisa de dois a oito litros, conforme sua atividade.

Quando falta água na fazenda, em climas semi-áridos ou com secas, o homem tem, necessariamente, de trazê-la, às vezes, de muito longe. Esse trabalho normalmente é feito por mulheres e crianças, as quais costumam percorrer até mais de 12 km por dia, o que significa esforço, gasto de energia e de tempo que poderiam ser úteis para outras atividades. Isso os mantêm num estado de cansaço que afeta a qualidade de suas vidas. Na maioria das vezes, essa falta de água é produzida por uma má utilização do Ambiente, da geração de mais e mais seca e, com isso, da produção de novos desertos, ou do desconhecimento das técnicas mais adequadas para captar água.

Como a água de má qualidade pode afetar o ser humano

Uma água quimicamente pura não é ideal para beber, pois não contém alguns sais minerais essenciais para o homem. A água poluída pode ter odores e sabores desagradáveis, ser adstringente ou turva, mas não necessariamente será tóxica. Seus efeitos para a saúde aparecerão a longo prazo. A água contaminada, entretanto, tem um efeito rápido sobre a saúde. A contaminação pode ser biológica ou química.

A contaminação biológica deve-se a micróbios levados para a água por animais doentes, ou pelo arraste de excrementos humanos ou animais, por contaminação hidrofecal. Anualmente, no mundo, morrem milhões de pessoas devido a enfermidades transmitidas pela água. Essas enfermidades são de quatro tipos. O primeiro corresponde àquelas em que o micróbio é transportado diretamente pela água, como a hepatite, que ataca o fígado; a febre tifóide, que produz febres muito altas; a amebíase e o cólera, que produzem diarréias, rápida desidratação e podem provocar a morte. O segundo tipo é transmitido por um caracol, peixe ou marisco. Desse grupo, a enfermidade mais temida é a esquistossomose, cujos vermes têm ganchos que se fixam no fígado do homem, produzindo lesões e que o fazem parar de funcionar. Essas pessoas, ao defecarem, lançam ovos que podem contaminar outras pessoas. No terceiro tipo, o micróbio é transmitido por insetos, cujas larvas vivem na água, como os mosquitos. Entre essas enfermidades estão a febre amarela, o paludismo ou malária e a filariose ou elefantíase. O quarto tipo está intimamente relacionado com a água utilizada na higiente corporal, que pode evitar a sarna, a tinha, o tifo e outras enfermidades.

A contaminação química é produzida principalmente pala atividade agrícola:

1.    fertilizantes químicos, agrotóxicos e hormônios, que envenenam a água;
2.    pela atividade industrial: pós e dejetos tóxicos e, em alguns casos, resíduos radioativos que “queimam” o corpo e produzem câncer;
3.    pela atividade mineradora e garimpeira: óleos, ácidos venenosos e mercúrio, que são produtos químicos altamente tóxicos.

Como as alterações ambientais e os hábitos da população rural e urbana afetam a saúde da comunidade

Nas áreas silvestres, existem doenças que ocorrem sem serem contraídas pelo homem. Essas afetam os animais silvestres de forma permanente. Quando o homem vai morar nesses lugares, pode adquirí-las. Isso ocorre se o homem se estabelece diretamente no ambiente natural ou se o modifica, para adequá-lo a outras atividades. Dessa forma, há sempre um certo número de pessoas afetadas nesses lugares por tais enfermidades, as quais, por isso, chamam-se endêmicas. Entre essas, podem-se citar a leishmaniose e a febre amarela. Acredita-se que o HIV, vírus causador da SIDA, vivia originalmente incubado nos corpos de determinadas populações de macacos nas florestas. Com o avanço do desmatamento ocorreu a destruição do habitat natural desses animais e a partir daí o seu contato com os seres humanos foi inevitável o que acabou causando a disseminação da SIDA ao redor do mundo.

Entre os maus hábitos, pode-se mencionar aquele de defecar diretamente na terra. Se a pessoa que o faz está doente, pode eliminar ovos de parasitas e estes podem incubar-se no solo e liberar pequenas larvas, as quais podem penetrar pela pele de pessoas sadias, adoecendo-as. Essas larvas fixam-se nos intestinos, produzindo úlceras, dores e anemia. Adubar a horta com excrementos humanos pode, também, produzir verminose, razão também pela qual essa prática não é incentivada.

O acesso de animais domésticos, como cães e gatos, nas praias e balneários destinados a recreação de banhistas também pode acarretar a disseminação de muitas doenças causadas por parasitas existentes nas fezes desses animais. Em muitos países do mundo esse acesso é proibido para se garantir um ambiente mais saudável às pessoas.

Outro hábito ruim é o de acumular lixo perto de casa, o que atrai ratos e moscas. Os ratos transmitem muitas doenças ao homem e aos animais domésticos, entre elas a leptospirose e a peste. As moscas contagiam com a febre tifóide e a disenteria bacilar. As larvas da mosca causam danos à pele e aos músculos de animais e do homem, tendo em vista que, geralmente, põe os ovos nas feridas.

Como podemos evitar danos à sua saúde produzidos por critérios equivocados de vida e trabalho

Muitas doenças e problemas de saúde pública podem ser evitados com algumas medidas simples, podendo-se, assim, devolver, a uma parte da população, seu bem estar e sua capacidade de trabalho. Uma forma seria, por exemplo, observar muito bem a origem da água e a contaminação que essa possa ter, ainda que usada somente para banho. Se as águas estão contaminadas com resíduos industriais, podem produzir graves alergias e danos à pele.

Sem dúvida, como já foi mencionado, os agrotóxicos danificam a saúde humana. O efeito é diferente, dependendo da quantidade e dos químicos que contenham. Dependendo do químico a ingestão ou uma forte dose recebida pela pele podem levar à morte em poucas horas. Em alguns casos, produz-se, também, a chamada intoxicação crônica, na qual o produto vai-se acumulando pouco a pouco no organismo, produzindo danos lentamente, os quais podem ser confundidos com outras enfermidades. Alguns químicos são de efeito cumulativo – acumulam-se no sangue e quando chegam a uma determinada quantidade, produzem a morte. O agricultor e sua família podem contaminar-se inalando-os, ingerindo-os com os alimentos ou com a água, ou por contato com a pele.

Outros problemas têm sua origem no desmatamento. Deve-se deixar vegetação suficiente para a fauna do lugar, evitando-se, assim, que esta traga alguma enfermidade para as habitações.
Também é importante aterrar ou drenar buracos e limpar canais de irrigação, para evitar a criação de caracóis, mosquitos e outros insetos que possam transmitir doenças.

É uma responsabilidade social educar as crianças sobre esses problemas, como forma de protegê-las. Também é responsabilidade social denunciar às autoridades ambientais e sanitárias sobre problemas do ambiente e da saúde, pois isso permite tomar, oportunamente, as medidas corretivas que correspondam ao município e aos organismos do estado.

Águas servidas e efluentes contaminantes?

Águas servidas são todas aquelas que tenham sido utilizadas e cuja qualidade se tenha deteriorado. Entre elas, encontram-se:

1.    as que foram usadas para lavar e tenham restos de sabão, detergentes e sujeira;
2.    aquelas provenientes dos esgotos das cidades, sujas com óleo queimado de automóveis, resíduos de putrefação, restos de inseticidas domésticos, etc.
3.    as águas já empregadas na irrigação também são servidas e, se a irrigação for mal feita, arrastam fertilizantes, agrotóxicos, terra e germes de doenças dos cultivos.
Os efluentes de esgoto são aqueles que recolhem excrementos humanos e urina. Representam um maior risco de contaminação de doenças infecciosas, especialmente no caso de esgoto de hospitais. Os efluentes industriais carregam diferentes substâncias ácidas e outras muito tóxicas. Frequentemente têm temperatura elevada, o que degrada gravemente a vida aquática.

Esses efluentes impactam fortemente o ambiente. Os rios, lagos, canais e oceanos se vêem afetados. O efeito será muito severo se ultrapassar certo limite de contaminação, já que esses ambientes suportam somente uma determinada quantidade de tóxicos em suas águas e uma maior proporção deles impede que os ecossistemas recuperem suas características normais.

Às vezes, o homem, sem saber, utiliza águas servidas, danificando sua saúde. A fauna, com maior razão, utiliza essas águas, pois não tem outra alternativa.

Para satisfazer as necessidades de água, o homem, lamentavelmente, danifica a qualidade de quantidades muito superiores àquelas que utiliza, e isso não é racional. Tampouco é racional devolver água poluída e contaminada à natureza, como se esta fosse uma lixeira. O homem deve aprender a usar mais responsavelmente esse recurso, em benefício de si mesmo. Deve fazer retornar ao ambiente águas limpas, podendo, dessa forma, contar sempre com águas puras e abundantes na Natureza. Parte importante desse dano pode ser evitado com hábitos culturais, capacitação técnica, preocupação da comunidade e planificação racional do uso que se fará da água.

Que destino deveriam ter os efluentes de esgoto?

Os efluentes de esgotos não deveriam ser lançados diretamente nos rios, nem no mar, por causa do risco de contágio de doenças e porque estes não são nem devem transformar-se em receptores de efluentes sanitários ou local de despejo de lixo. Infelizmente, é isso que ocorre em grande parte do mundo. Os excrementos tampouco devem permanecer no campo, pois podem produzir contaminação hidrofecal.

Há comunidades indígenas pequenas, em equilíbrio com o ambiente, que defecam ao ar livre, e animais saprófagos que comem seus excrementos e os integram ao ciclo biológico. Assim, a contaminação é mínima. Isso já não ocorre atualmente nas fazendas, pois a fauna saprófaga foi, em grande parte, eliminada. Apesar disso, o princípio é válido. Devem-se incorporar esses resíduos a um processo biológico para obter sua reciclagem e, assim, recuperar nutrientes e evitar contaminação.

Uma forma de reciclar os excrementos seria misturá-los com lixo e terra para fermentá-los e transformá-los numa espécie de adubo orgânico. Isso requer técnica para que a fermentação alcance 70 a 75 graus, eliminando os micróbios. Outra forma prática para a machamba é o “banheiro-liteira”. Este consiste em uma “casinha” leve, que é levada de um lugar para outro e instalada sobre buracos de 60 cm de profundidade, para ser usada como vaso. Quando estiver com um terço de seu volume cheio de excrementos, agrega-se lixo orgânico, capins, folhas e talos, até outro terço. Em seguida, acrescenta-se uma pá de cal ou cinza e, por cima, terra retirada de quando se fez o buraco. Enterra-se nesse lugar uma estaca e, depois de três meses, mistura-se tudo e planta-se uma árvore frutífera. Assim, vai-se fazendo um pomar de frutíferas, que estará fertilizado organicamente por muitos anos.

Outro sistema consiste em conduzir as águas escuras a um poço séptico, no qual estas decantam e os líquidos infiltram-se pelo fundo. Dessa forma, há menos risco de contaminação. Algumas cidades têm estações de tratamento de águas escuras, com lagoas destinadas à oxidação e destruição dos resíduos, por fermentação.

Como melhorar a água para o consumo humano

Numa quinta ou machamba, necessita-se basicamente de dois tipos de água. Ambas devem ser limpas, mas deve-se distinguir entre a água corrente destinada a molhar ou lavar os pisos, os vidros, molhar plantas, e a água potável utilizada para beber, preparar alimentos, lavar verduras, frutas e utensílios de cozinha. Filtrando-se a água coletada das chuvas com areia e carvão vegetal, é possível obter água corrente de boa qualidade.

Tendo-se água corrente, pode-se torná-la potável, filtrando-a num pote de argila finamente poroso ou em um filtro de rocha porosa. Esse material deixará passar a água gota-a-gota. Como uma parte da água que molha o filtro se evapora, este se mantém frio e refresca a água. Além de manter-se fresca, a água, ao gotejar num pote de argila, torna-se aerada, melhorando seu sabor e o gosto dos alimentos preparados com ela.

A água assim filtrada ainda pode conter contaminação biológica. Para eliminar os micróbios, é necessário proceder à desinfecção que consiste em adicionar algum produto que tem o poder de matar os germes. Um desses produtos é o cloro (hipoclorito de sódio – “Certeza”), que funciona como um poderoso agente desinfectante.


Outra forma de conseguir a descontaminação biológica é ferver a água por 15 minutos. Se a água não é utilizada em oito horas, deve-se tornar a fervê-la por mais cinco minutos. Para economizar combustível, pode-se usar o calor solar. Para isso, basta pintar de preto, por fora, tachos ou garrafas com tampa. Estas, cheias de água, são postas numa caixa de metal pintada de preto por dentro, a qual é tampada com vidro. Essa caixa é colocada ao sol, onde será aquecida. A cada duas horas, pode-se tirar água descontaminada (sem bactérias) das garrafas e carregá-las novamente com água filtrada. Nesse sitema, a água não ferve, mas alcança de 65 a 75 graus, o que mata a maioria dos micróbios.

CURSO DE AGRICULTURA NATURAL E GESTÃO AMBIENTAL - 2015: AULA 12 - O MANEJO AMBIENTAL DOS SOLOS

O MANEJO AMBIENTAL DOS SOLOS

A salinização dos solos

A salinização é um acumulo de sais, geralmente alcalinos, nas partes do solo próximas à superfície. Afeta a fertilidade, pois muitas plantas não são tolerantes a eles. Esse problema é mais frequente nos solos de climas semiáridos. Esses sais são, geralmente, solúveis em água e, por essa razão, nos climas chuvosos, são dissolvidos e levados de forma natural até lugares mais profundos. Nas regiões mais áridas, não existe essa possibilidade de arraste natural, por isso estes de acumulam.

As causas são muitas e diferentes. Uma delas é o uso excessivo de fertilizantes químicos, os quais podem conter produtos, como o sódio e outros, que, com o tempo, concentram-se no solo e, ao se unirem com outras substâncias, podem dar origem a sais tóxicos. A origem mais frequente da salinização é a irrigação com água de má qualidade, contaminada com efluentes industriais, de mineração, de esgoto e outras servidas. Também pode ser produzida por utilização de águas subterrâneas que contenham sais, razão pela qual é conveniente fazer a análise dessas águas.

Para recuperar um solo salinizado é preciso “lavá-lo”. Isso significa que se devem arrastar os sais para um lugar mais profundo e, em seguida, realizar o cultivo. Por um fenômeno chamado capilaridade, a água sobe através dos poros e canalículos do solo, levando os sais novamente para a superfície. Por essa razão, deve-se fazer um número maior de regas, de curta duração e mais frequentes. Assim, é possível evitar que os sais subam até a superfície. O uso de solo com essas características é mais caro e, por essa razão, devem-se tomar todas as precauções mencionadas para evitar que um solo se salinize.

É importante, também, o controle do lençol freático. Se este é muito superficial e as águas são salinas, os sais subirão facilmente por capilaridade. Nesse caso, dever-se-á estudar uma forma de melhorar a drenagem. A cobertura do solo com uma espessa camada de capim, por exemplo, ajudará bastante no controle da salinização.

A erosão dos solos

Entende-se por erosão o fenômeno pelo qual as partículas do solo ou fragmentos dele são removidos e transportados pela água ou pelo vento, destruindo-o e degradando-o. Essa é uma “doença” ou “cancro” do solo, produzido quase sempre pelo mau uso que o homem faz dele. É um impacto negativo muito severo, tendo em vista que o solo é um recurso não renovável. Perdendo-se solo por erosão, demorará uns 30.000 anos para que este se regenere, em clima frio, e de 10.000 a 15.000 anos, num clima quente e úmido, caso se trate de um solo raso. Para se recuperar um solo profundo, demoraria muito mais. De qualquer forma, são períodos muito grandes para pensar que o solo é renovável, considerando os anos que vive um ser humano.

Um solo mal utilizado pode ser erodido em 30, 20 e até 10 anos, acarretando pobreza por muito tempo nesse local. Com boas técnicas, é possível produzir em um solo com certo nível de degradação, mas o que não é possível é recuperar o solo propriamente dito. A erosão significa o arraste de nutrientes e de uma grande quantidade de substâncias úteis, que não regressarão nunca mais e que representariam muito dinheiro, se tivéssemos de comprá-las.

A erosão é produzida quando o solo fica exposto à energia extrativa da água (impacto das gotas da chuva e sua velocidade e turbulância). O fenômeno da erosão também ocorre de forma normal na natureza e se chama erosão natural. Seu efeito é muito pequeno e tão lento que permite ao solo recuperar-se. A erosão produzida pelo homem pode ser 50, 100, 200 e até 500 vezes mais rápida que a natural, não permitindo ao solo recuperar-se; por isso, denomina-se acelerada. A erosão produzida pelo vento chama-se eólica; pelas chuvas, pluvial; pelas águas de um rio, fluvial, e chama-se hídrica se é produzida pela água que escorre pela superfície do solo.

Como se reconhece a erosão dos solos

A erosão é definida pelas formas que esta produz na superfície do terreno. A erosão pluvial corresponde ao movimento das partículas do solo no sentido da pendente, devido à explosão das gotas de chuva ao cair. Esse tipo de erosão não se vê, mas é sempre produzida quando chove e o solo está descoberto. Logo, a água, ao escorrer pela superfície como uma lâmina, remove uma fina camada de solo; a isso se denomina erosão laminar. Quando a água, ao escorrer, canaliza-se em pequenas valas pouco profundas, de secção retangular, que se juntam e se separam formando uma rede sobre o terreno, tem-se erosão reticular. Toda a erosão mencionada até agora recebe, também, o nome de erosão hipócrita, pois, passando-se o arado, desaparecem as formas descritas, porém não os seus efeitos negativos.

Quando as valas têm forma aproximada de U, de 20 a 40 centímetros de profundidade, chama-se erosão por sulcos; se afetam toda a profundidade do solo e têm a forma da letra V, denomina-se erosão em sulcos profundos; se, ademais, afeta o subsolo, podendo ter vários metros de profundidade, chama-se erosão em voçorocas. Em todos esses casos, interessam tanto quanto a quantidade de sulcos, sulcos profundos ou voçorocas que ocorram num determinado lugar.

Para se ter uma idéia do signficado da erosão, deve-se considerar que um centímetro de espessura de perda de solo corresponde a cerca de 100 a 120 toneladas de terra perdida em cada hectare. Se não se usam técnicas de conservação do solo, deixa-se o solo desnudo e, se a infiltração é lenta, facilmente se perderão 50, 100, 200 ou mais toneladas de terra por hectare a cada ano. Uma das formas de reconhecer a erosão é observar a mudança de cores da superfície do solo; quando o fenômeno da erosão se iniciou, as cores correspondentes aos materiais do solo aparecem localizadas mais abaixo. Outra forma é observar a marca de líquens (briófitas) nas pedras, ou as raízes de árvores e os mourões das cercas desenterrados.

Quais as técnicas para evitar a erosão dos solos

Além das técnicas para evitar a erosão dos solos, há normas que devem ser respeitadas e cuja finalidade é protegê-lo, junto com a água e com o ambiente. Em alguns países existem, por mandado de lei, Unidades de Conservação da Natureza, entre as quais se encontram as Reservas Biológicas, os Monumentos Naturais, os Jardins Botânicos e outras, destinadas somente à investigação científica, ao estudo e à proteção de espécies, ecossistemas e do solo. Aí não se pode fazer agricultura. Outras áreas em que essa atividade está limitada são as Reservas Indígenas, onde o uso agrícola é permitido somente a tais grupos.

Também é declarada área de preservação permanente, não sendo possível o seu uso agrícola, uma faixa de 30, 50, 100, 200 ou 500 metros de largura, nas duas margens de cursos d´água de até 10, de 10 a 50, 50 a 200, 200 a 600 e de mais de 600 metros de largura, respectivamente. O mesmo para uma faixa de 100 metros ao redor de lagos, e de 50 metros, se este tem um corpo d´água menor que 20 hectares. Igualmente, deve ser preservado um raio de 50 metros em torno de nascentes e olhos d´água, sejam permanentes ou intermitentes.

Outros sítios que devem ser respeitados são os topos dos morros, montes, montanhas e serras, desde 2/3 de sua altura para cima, até a linha de cumeada, bem como as encostas com inclinações superiores a 45 graus (100% de declividade); se há bosques, também serão consideradas áreas de exclusão aquelas que tenham entre 25 e 45 graus de inclinação (46 a 100% de declividade), ainda que estejam abaixo da altura assinalada. Em geral, não se pode fazer agricultura sobre 24 graus (45%) de declividade. Em lugares onde ocorrem chuvas torrenciais, de longa duração e solo com pouca capacidade de infiltração, é necessário aplicar técnicas de conservação em solos com mais de 2% de declividade. Se chove “lenta e suavemente”, como um chuvisco, se há boa infiltração e os solos são profundos, os riscos serão menores.

Como regular mecanicamente a energia erosiva da água

É possível cultivar terras um pouco inclinadas sem que sofram erosão. Para isso, deve-se modificar a superfície, de tal maneira que o escorrimento das águas seja controlado, e sua velocidade, regulada. Assim, não haverá energia para erodir. Isso permitiria aproveitar melhor a água e evitar a sua poluição, ao escorrer como água excedente.

Uma forma é construir muros ou barreiras de pedras, em curvas de nível, que dificultem a passagem da água que escorre depois das chuvas e, ainda, que filtrem e retenham parte da terra e a fertilidade que ela arrasta.

Melhor é fazer terraços, seja com talude de terra, seja com muros de pedra. Os terraços com talude de terra são planos, de 30 a 40 metros de comprimento; sua largura depende da inclinação do terreno. Entre um e outro, há um talude inclinado, de 30% de pendente, que se mantém sempre com gramíneas curtas (10 a 15 cm), para evitar que haja erosão e que se estabeleçam pragas que possam afetar o cultivo. O plano que forma o terraço tem uma declividade de até 1,5%, para que a água das chuvas ou o excedente da irrigação escorra para um canal pequeno, que deve correr por trás do plano e que não rompa o lado anterior do terraço. Esse canal tem uma pendente suave para os lados e, em seguida, sofre um rebaixamento brusco, transformando-se num sistema de canais em saltos, no sentido da pendente. Pelo sistema de saltos, feito com pedras ou sacos de plástico cheios de terra, a água correrá como por uma escada, diminuindo em cada salto sua velocidades e energia.

Uma forma simples e bem econômica de fazer terraços é plantar o capim vetiver (Vetiveria zizanioides), de forma a produzir uma barreira viva que irá evitar a erosão de solos de encostas. O vetiver pode ser plantado em lonha ao longo das curvas de nível do terreno e a distância entre uma linha e outra dependerá fundamentalmente da inclinação do terreno. Sugerimos a leitura do Boletim Ténico publicado pela deFlor Bioengenharia, referenciado no final do livro e disponibilizado no site desse nosso Curso de Gestão Ambiental.

Como se pode evitar a erosão produzida pelas águas de escorrimento

Quanto mais inclinada uma superfície e mais larga a pendente, maior a velocidade da água que escorre sobre o solo e maior a energia que ela conterá para erodir. A conservação se baseia no controle da energia da água.

Uma forma de fazê-lo é construir canais que “cortem” a pendente, permitindo um escorrimento lateral da água. Para tanto, os canais devem ter uma pendente suave (1%), para que a água escorra lentamente sem que haja erosão, ou seja, sofre um rebaixamento de um centímetro a cada metro do canal. Os canais terão pouca distância um do outro, entre 12 e 30 metros, conforme a infiltração seja lenta ou rápida, o solo tenha boa ou má capacidade para armazenar água, delgado ou profundo, e o lugar maior ou menor inclinação.





O canal pode ter o fundo mais amplo, com os lados arredondados, podendo ser aproveitado com cultivos ou mantido com pasto de utilidade forrageira. A isso se chamará terraços de escorrimento lateral e não canais de escorrimento lateral. Esses terraços também deverão ter uma pendente pequena (1%), para facilitar o escorrimento da água.

Outra forma mais simples é substituir esses canais por uma vala bastante aberta, em forma de V, que permita o escorrimento lateral e que se chama sulco de ladeira.

Quando é necessário proteger uma área e limitar a passagem de água de escorrimento por ela, é possível construir um canal de desvio em um nível mais alto, para conduzir a água a um lugar seguro para sua infiltração ou aproveitamento em uma pequena represa. Essas pequenas represas podem ser construídas também ao lado de caminhos inclinados para desviar a água que corra por eles e anular sua energia. Também é possível implantar um sistema de diques ou represas no interior de voçorocas. Isso diminuirá a velocidade da água que passa por elas e depositará a terra levada em suspensão pela água. Dessa forma, pouco a pouco, a voçoroca poderá se transformar em um sistema de terraços aproveitáveis.

Como conservar o solo e aumentar a água subterrânea

Para conservar o solo e, ao mesmo tempo, aumentar a disponibilidade de águas subterrâneas, é necessário interceptar a água de escorrimento superficial e favorecer sua infiltração e penetração no subsolo.

Para isso, serão construídos canais ou terraços para “recolher” a água de escorrimento superficial. Estes se distribuirão da mesma forma que os canais de escorrimento lateral: separados quando a pendente for suave e mais próximo se esta for maior. São canais e terraços de absorção ou infiltração e não devem ter pendente, devem ser totalmente planos. Dessa forma, a água infiltrará pelo fundo desses canais ou terraços, enriquecendo em disponibilidade o subsolo. Essa solução também é muito importante quando não há um lugar seguro para onde conduzir a água. Como a água não pode escorrer, devem ter capacidade de conter uma quantidade maior de água.

Para construí-los, deve-se traçar e seguir uma curva de nível. Suponhamos um pequeno morro e imaginemos que uma pessoa caminhe ao redor dele, pela ladeira, a meia altura, sem subir nem baixar. Dará uma volta completa em torno do morro e chegará exatamente no mesmo ponto. Se observarmos sua caminhada por cima, veremos uma linha curva, que chamamos curva de nível, por estar em nível. Essa técnica é útil, mas só pode ser aplicada se o solo é profundo ou se tem um subsolo que permite a percolação da água. Suponhamos que seja feita uma curva de nível num solo raso e que abaixo dele ocorra uma rocha impermeável. Ao construir um terraço ou canal de absorção, produzir-se-á encharcamento, amolecimento como uma massa de barro e deslizamentos do solo, erosão e degradação.

Outro sistema consiste em construir sulcos profundos que recolherão toda a água, para que se infiltre. É um sistema que requer muito trabalho, que dificulta o uso da água, além de ser muito caro.

Controle da erosão com restos orgânicos

Para o controle da erosão também podem ser utilizados restos de plantas, recém-cortados, já secos ou bem fermentados, para aplicá-los como adubo orgânico. Podem ser postos na superfície do solo ou incorporados, enterrando-os. Em cada caso, os efeitos serão diferentes. A matéria orgânica utilizada na superfície se chama “mulch”, protege o solo do impacto da chuva e regula sua temperatura. Usa-se como “mulch” a resteva dos cultivos e podas, especialmente de agrossilvicultura (agroflorestas).

Fertilizar com restos orgânicos permite aumentar a atividade biológica do solo, pois os microrganismos e as minhocas não se alimentam de adubos minerais, mas de resíduos orgânicos. Contribui, também, para que o solo retenha mais umidade. A matéria orgânica, ao decompor-se, produz uma substância que se une às partículas do solo, melhorando sua estrutura. Isso atenua, também, a erosão, ao favorecer a infiltração e o movimento da água dentro do solo. Os restos orgânicos são muito importantes para deixar o solo protegido, durante um cultivo e o seguinte.

Os restos orgânicos, ao se decomporem, ajudam a reter os nutrientes aplicados, diminuindo significativamente a necessidade de acrecentar fertilizantes químicos. A matéria orgânica, por si mesma, fornece nutrientes lentamente, pois estes não são arrastados pela água que percola no solo e, portanto, não se perdem. Quando restos orgânicos não fermentados são incorporados ao solo, não se deve cultivar de forma imediata. Deve-se dar tempo para que estes restos se decomponham, porque, durante o seu apodrecimento, alguns nutrientes neles contidos, como o nitrogênio, são utilizados pelas bactérias do solo. Com esses nutrientes, as bactérias se reproduzem e aumentam em número. Uma vez terminado o apodrecimento, as bactérias morrem, deixando livre o nitrogênio, o qual será utilizado pelo próximo cultivo.

O que é e qual a importância da cobertura vegetal

Se observássemos uma paisagem, seria possível desenhar as áreas cobertas pela folhagem das árvores, por pastagens, aquelas sem vegetação, e estimar a porcentagem de cada uma delas. O tipo de cobertura vegetal natural está em equilíbrio com a disponibilidade de água, clima e outras características do lugar. Na savana, há relativamente pouca vegetação; no cerrado, a paisagem consiste de pastagens com alguns arbustos e árvores. Nas florestas chuvosas há muitas árvores de diferentes alturas, com uma folhagem de grande dimensão. Um dos impactos negativos mais frequentes é eliminar essa cobertura e não substituí-la por outra que cumpra as mesmas funções com relação ao ambiente. Isso seria o racional e tecnicamente correto, apesar de ser difícil conseguí-lo. A eliminação da cobertura vegetal deve ser parcial, devendo-se respeitar a área de Reserva Legal que não pode ser desmatada.

As principais funções são: as plantas transpiram e também perdem água por evaporação, através da superfície das folhas. Isso se chama evapotranspiração e transfere água para a atmosfera, ativando uma parte da chuva e do ciclo hidrológico. Quando chove, em cada folha caem algumas gotas de água, parte da qual se evapora e outra goteja no solo ou serve à fauna, a qual se refugia e se abriga nas árvores. A cobertura vegetal protege o solo, evitando que resseque, que sua atividade biológica se paralise devido ao aquecimento e evita, também, o frio extremo. Tudo isso forma um clima restrito ao lugar coberto pelo bosque, chamado microclima. A vegetação libera oxigênio para a atmosfera, razão por que nos fornece ar puro.

A cobertura vegetal protege o solo do impacto da chuva; as folhas secas que caem alimentam e nutrem a vida do solo, além de reter umidade e filtrar a água que escorre sob as plantas, permitindo que escorra limpa; as raízes das árvores facilitam a infiltração da água no solo, além de absorverem parte dela, para conduzi-la até a folhagem. A vegetação regula o ciclo hidrológico natural e tem grande importância na qualidade e quantidade de água disponível.

As queimadas e a degradação do ambiente

A prática já tradicional e, lamentavelmente, muito utilizada das queimadas tem como inconveniente que, a partir delas, inicia-se uma cadeia de impactos ambientais negativos, já que:

1.    elimina a vegetação;
2.    afugenta ou mata a fauna;
3.    degrada e empobrece os solos;
4.    causa poluição do ar;
5.    aumenta o escorrimento superficial das águas e diminui sua infiltração no solo.
O fogo é, também, uma das principais causas da redução da diversidade genética. Se ocorrem sucessivas queimadas no mesmo lugar, eliminam-se seletivamente algumas espécies vegetais menos resistentes ao fogo, favorecendo-se a invasão de outras, muitas das quais prejudiciais à atividade agrícola e pecuária. O fogo, portanto, é um agente degradador das condições ambientais.

Os impactos ambientais negativos produzidos pelos agrotóxicos

Por ignorância ou desejo de lucro desmedido, aqueles que comercializam alimentos produzidos com agrotóxicos estimulam o agricultor a aplicar doses muito altas ou misturas de químicos, sem uma base técnica. Por essa causa, iniciam-se amplas cadeias de impactos negativos. Na maioria das vezes, o agricultor não tem consciência disso, porém isso não o isenta da responsabilidade dos impactos ambientais negativos que acaba por provocar.

Nesse caso as cadeias de impactos são três. A primeira inicia-se com o efeito do agrotóxico na pessoa que o aplica (1), pois assim o respira ou o tem depositado sobre a pele. Alguns efeitos só podem ser percebidos quando se chega à dose crítica, que pode ser mortal. O agricultor leva o veneno à sua família, intoxicando-a e, em alguns casos, afetando recém-nascidos, ao contaminar o leite materno.

Outra cadeia tem início com a contaminação do solo (2), prejudicando sua atividade biológica, a água e, com ela, a fauna. A terceira cadeia corresponde à carga tóxica dos produtos da agricultura que afetam a saúde de quem os consome (3), pois não se respeita o período legal de carência de agrotóxicos, previamente à colheita.

CURSO DE AGRICULTURA NATURAL E GESTÃO AMBIENTAL - 2015: AULA 11 - A ÁGUA NA NATUREZA

A ÁGUA NA NATUREZA

Se olharmos uma paisagem, observaremos que a água está presente em muitos lugares. A forma direta de apreciá-la é pela chuva, a qual constitui a parte mais importante do ciclo hidrológico da Natureza, permitindo que plantas e animais possam utilizá-la, limpa e de boa qualidade.

O ar sempre tem vapor d´água. Não o vemos porque é transparente. O ar mais frio tem menor capacidade para conter vapor. A umidade relativa é a quantidade de vapor d´água contido no ar, a uma determinada temperatura, em relação à quantidade máxima de vapor que poderia conter a essa mesma temperatura. Quando o ar tem muito vapor d´água e se resfria, são produzidas gotículas em forma de neblina, as quais ocorrem especialmente nas áreas de florestas altas e nos vales. São gotículas tão pequenas que flutuam no ar, formando uma nuvem que se arrasta empurrada pela brisa, molhando as árvores e o solo, mais frequentemente à noite ou ao amanhecer, ao baixar a temperatura.




Rios, córregos e nascentes são parte da paisagem e, geralmente, são alimentados pela água das chuvas que se acumula nas bacias hidrográficas. A água se junta também em lagoas naturais, em pântanos ou simplesmente nas áreas geralmente baixas de solos mais úmidos. O solo pode armazenar água, a qual é aproveitada pelas plantas e pelos organismos que vivem nele.

Sob o solo podem existir materiais permeáveis e porosos, com capacidade de armazenar água, os quais chamam-se aqüíferos, pois contêm água subterrânea, podendo ser pouco ou muito profundos. Nos poros do solo e do subsolo, também se pode encontrar água, a qual se chama lençol freático.

Toda vegetação acumula quantidade abundante de água em seus tecidos. Se retirarmos toda a água que forma parte da folhagem das árvores de uma mata, teremos um imenso lago de uns dois metros de profundidade. Essa água contida nas plantas é que regula a temperatura nos trópicos e protege o solo do calor solar.
  
EXPERIÊNCIA:

Colete algumas folhas de hortícolas ou mesmo de alguma árvore do seu quintal ou praça pública. Coloque estas folhas o mais rápido possível dentro de um saquinho de plástico transparente e em seguida feche-o bem. Espere alguns minutos e observe o saquinho. O que aconteceu? Como você explica o fenômeno que presenciou?

A derrubada das florestas e matas tem por consequencia o avanço dos processos de desertificação. A água que evapora das plantas (evapotranspiração) é responsável por regular todo o clima de uma região. Essa água ascende à atmosfera e irá, juntamente com as águas oriundas da evaporação de rios, lagos e oceanos, compor as nuvens. Porém as precipitações (chuvas) só irão ocorrer se no ar houver quantidade suficiente de umidade que, por sua, vez, depende da presença fundamental das árvores.
A quantidade de água que uma floresta lança diariamente na atmosfera é gigantesca e se fosse para lançar essa mesma quantidade de água artificialmente o processo seria inviável. Estima-se, por exemplo, que para lancar à atmosfera a mesma quantidade de água que a floresta amazônica no Brasil evapora num único dia seria necessária toda a energia produzida pela Usina Hidrelétrica de Itaipu, a maior usina hidrelétrica do mundo com 14.000 MW de potência instalada, que fica na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, durante 150 anos!      
     
As necessidades de água do ser humano

O homem requer água fundamentalmente para sete necessidades básicas:

·        para beber e manter a hidratação (1) e o funcionamento de seu organismo;
para o asseio pessoal (2), de sua moradia e de seus utensílios;
para a preparação de alimentos (3).

Na maioria das grandes e médias cidades do mundo, esses três usos, em conjunto, requerem diariamente 120 litros por pessoa, ou, no mínimo, 60 litros.

Outros usos são: a eliminação de excrementos (4) ou águas de esgoto e a produção de energia hidroelétrica (5), pois geradores de energia são movidos com a força da queda d´água. O homem necessita de água também para processos industriais (6), como fabricar papel, extrair açúcar de cana, resfriar motores, gerar pressão de vapor, etc.

Uma necessidade muito importante é a produção agropecuária (7) e, dentro dessa, a irrigação dos cultivos e a água de dessedentação do gado. Essas necessidades são diferentes conforme a atividade de cada fazenda, a tecnologia que se uso, o tipo e o tamanho da cultura e a quantidade de gado que se tenha.

Além do exposto, a água é necessária como via de transporte e como elemento de distração para refrescar o corpo.

O importante é que o homem possa satisfazer suas necessidades de água em harmonia com as necessidades dos ambientes naturais, devendo, para tanto, utilizá-la com eficiência e cuidado. Deve devolver a água à Natureza nas mesmas condições de pureza em que esta se encontra num ambiente não degradado pelo homem. Dessa forma, a água poderá ser utilizada tanto para o funcionamento dos ecossistemas naturais como pelo próprio homem, já que todos os seres vivos são parte de um só grande sistema chamado Ecosfera. Só um Ambiente bem preservado, uma Natureza com seus ecossistemas funcionando normalmente podem nos proporcionar a água na quantidade e na qualidade de que necessitamos. Isso não é possível se não devolvemos água limpa ao Ambiente.

As necessidades de água da Natureza

Quando o homem não intervém no ambiente natural, as necessidades de água da Natureza são satisfeitas, pois a vegetação e a fauna de um lugar somente podem viver com a água trazida pelo clima, que se acumula nesse ambiente, com ventos, chuvas e calor. Quando o homem intervém no ambiente, frequentemente altera suas condições e provoca falta de água para algumas ou muitas espécies.

A Natureza requer água para a vegetação, sejam ervas, arbustos ou árvores. A necessidade será diferente em cada caso, dependendo do tamanho e da quantidade de plantas, da secura do ar, do maior ou menor impacto dos raios solares, da ação do vento, etc. As plantas necessitam de água para o transporte de nutrientes, desde o solo até a folhagem; para manter os ramos, folhas, flores e frutos saudáveis e vigorosos. A fauna, logicamente, também necessita de água, de qualidade muito boa, pois, sem ela, receberá um impacto negativo muito forte, o que diminuirá a população e aumentará a agressividade entre espécies, devido à competição pela água.

As lagoas e os rios são lugares onde vivem peixes e plantas aquáticas que dependem da água para encontrar alimento e como ambiente para viver; logicamente, se esta se contamina ou se o córrego seca, haverá um impacto negativo muito severo, que afetará estas espécies. No solo, vive uma grande quantidade de seres pequenos e muito úteis, os quais requerem água para o seu desenvolvimento, atividade e ciclos biológicos. Estes são seriamente afetados se a umidade do solo é alterada, se a infiltração diminui, se ocorre erosão ou é diminuída a capacidade do solo para armazenar água em seus poros. Se isso ocorre, ainda que continue chovendo a mesma quantidade nesse lugar a cada ano, o solo terá menos vida, pois ter-se-á produzido um grande problema chamado seca do solo.


As alterações do Ciclo da Água

Na Natureza podemos distinguir diversas ofertas de água, fornecidas por meio do ciclo hidrológico. Estas devem satisfazer as demandas ou necessidades de água do homem e, logicamente, as próprias necessidades da Natureza.

As demandas ou necessidades do homem podem ser ou não claras, isto é, há algumas que se manifestam como tais, outras não. Isso se deve a alguma razão cultural, ou ao desconhecimento dessa necessidade. Outra forma de agrupá-las é em necessidades reais e aparentes, ou seja, as verdadeiramente requeridas e aquelas que não o são, ou que se desejam em quantidades maiores do que aquelas realmente necessárias. As necessidades são referidas a uma determinada quantidade e qualidade e, também, à disponibilidade de água no lugar e no momento em que dela se necessite. Vamos a mais um exemplo. Ja referimos anteriormente que, num dia quente e com muito vento, até 70% da água utilizada para a irrigação das culturas agrícolas acaba por ser evaporada sem cumprir nenhum papel fisiológico nas plantas ou mesmo na fauna e microfauna do solo. Grandes projetos agrícolas não costumam levar esse fato em consideração e acabam por desperdiçar milhões de litros de água num único dia de operações, conforme o tamanho do campo a ser irrigado. Uma taxa típica desses pogramas de irrigação prevê valores da ordem de 20 a 25 mm de água por dia, o que equivale a dizer 20 a 25 litros de água por metro quadrado por dia. Se, utilizando uma taxa como esta, a área a ser irrigada for, digamos, de 10 hectares (100.000 metros quadrados), isso significa que serão utilizados de 2.000.000 a 2.500.000 de litros de água. Se a operação for feita nos moldes convencionais e considerando uma perda de 70% de água simplesmente por evaporação, estamos falando então de um desperdício diário de 1.400.000 a 1.750.000 de litros de água!

O uso descontrolado de água pelo homem nas bacias hidrográficas leva-os a alterar o ciclo hidrológico. No entanto, salvo no caso de grandes empreendimentos de irrigação ou hidrelétricos, este poderia satisfazer suas necessidades sem produção de mudanças severas no ciclo natural. A alteração deve-se a outras ações do homem, como o desmatamento e o uso da terra sem técnicas eficientes de controle de rosão, pertubando a infiltração da água no solo e diminuindo severamente a armazenagem de água e a recarga de aquíferos. Como consequencia, depois das chuvas, o escorrimento superficial será muito abundante e rápido, as águas serão carregadas de sedimentos e haverá inundações e grandes períodos de seca. A alteração também é produzida por captações para irrigação mal feitas e sem planejamento.

Todos os aspectos assinalados afetam a oferta, a disponibilidade e a qualidade da água. Sem dúvida, o uso ordenado e planejado, com a eliminação prudente da cobertura vegetal, com o emprego de técnicas eficientes de cultivos e uso da água pode contribuir para satisfazer a demanda humana sem alterar gravemente o ciclo hidrológico.


A importância da infiltração da água no solo

Para que a água que está na superfície penetre através do solo, é necessário que exista permeabilidade. A infiltração é a passagem da água através do primeiro centímetro do solo. Para isso, deve haver poros e canalículos livres ou abertos, os quais absorverão a água como uma esponja. Influi também a pressão desta desde a superfície.

Quando o solo está sem plantas para protegê-lo, é possível que os poros e canalículos se fechem. Uma gota de chuva é 8 a 30.000 vezes maior que uma partícula de solo. Ao cair, arrebenta, solta, dividindo-se em outras pequenas, levando partículas e distribuindo-as como uma fina camada que sela e fecha a entrada dos poros e canalículos; em solos muito ricos em argila, esta se “incha” com á água e sela o solo, produzindo um efeito parecido.

Se não há infiltração, a água permanecerá na superfície. Se esta é côncava, formará uma poça; se é inclinada, escorrerá, tomará velocidade e energia para remover partículas do próprio solo, erodindo-o. Se os poros do solo estão cheios de água, a infiltração também será afetada. Por essa razão, é importante o efeito de regulação da vegetação com relação à chegada de água ao solo. Se os poros são abundantes e as partículas do solo estão bem agrupadas em pequenos torrões, haverá boa estrutura, a infiltração será mais fácil e a água percolará melhor através do solo. Se tem argila e está bem estruturado, armazenará água por mais tempo. Se um solo tem muita areia, a infiltração e a percolação serão rápidas e o solo reterá pouca água. Podemos falar de infiltração lenta ou rápida. Quando esta é lenta e a água se junta rapidamente na superfície, haverá escorrimento, erodindo o solo. Por isso, é muito importante mantê-lo bem estruturado. Se o solo tem muita areia, a agregação de matéria orgânica aumentará sua capacidade para armazenar água.

A importância do movimento da água no solo

O movimento da água no solo dependerá das suas características tais como: quantidade de matéria orgânica (1); textura (2) ou proporção de areia, limo e argila;da estrutura (3) ou forma com que se agrupam as partículas em pequenos torrões ou grânulos, já que, quanto melhor a estrutura, mas espaços permanecem e mais facilmente a água se movimenta; da porosidade (4) deixada nas pequenas raízes de plantas ao morrerem, ou de poros maiores formados pelo movimento de minhocas e pequenos organismos, ou, ainda, feitos por bolhas de gases provenientes do apodrecimento de algumas substâncias.

O solo, dependendo do seu tipo, tem uma capacidade determinada para reter ou armazenar água. Se irrigarmos conforme suas características, o solo se molhará proporcionalmente à quantidade de água que recebe. Se a água que se infiltra é excessiva, o solo se encharcará e seus poros se encherão de água; o resto percolará e passará ao subsolo. Se tomarmos essa terra, nossas mãos ficarão molhadas. Depois de um tempo, o excesso percolará mais profundamente, diminuindo sua quantidade no solo, até um nível que se denomina capacidade de campo. Deixando-se passar mais tempo, as plantas utilizarão parte da água, outra se evaporará e esta se reduzirá, no solo, a uma quantidade abaixo da capacidade de campo. Sua utilização será mais difícil para as plantas, pois estas necessitarão de mais força para succioná-la, chegando à situação em que não poderão utilizar a água. A isso se chama ponto de murchamento permanente, justamente porque as plantas murcharão.

Se a drenagem interna é excessiva, o solo reterá pouca água, pois esta percolará, arrastando nutrientes. Nesse caso, deve-se regar com pouca água e mais frequentemente. Se a drenagem interna é muito lenta, deve-se melhorá-la, pois, sem isso, os poros se encherão de água, ficando sem ar e oxigênio. Esse ar é muito importante para o desenvolvimento da comunidade microbiana aeróbica, característica de solos fertéis e produtivos.


O que é uma nascente de água e como devemos protege-la

Um impacto ambiental negativo frequente no campo é a falta de proteção das nascentes de água. Elas cumprem uma função vital nos sistemas naturais do Ambiente. Para o homem têm grande importância, pois, se bem cuidadas, oferecem águas de qualidade muito boa. Podem, porém, ser degradadas facilmente. Devemos, pois, protegê-las para preservar a qualidade da água e, também, o mecanismo natural mediante o qual funcionam.

Para evitar a contaminação da água, devemos cercar o lugar (com arame farpado, por exemplo) e, assim, evitar que os animais excretem e possam transmitir doenças; pôr as latrinas em lugares mais baixos e evitar que o homem defeque onde a água, ao escorrer, possa arrastar contaminação para a nascente. Não devemos aplicar nenhum tipo de produto, seja ele “orgânico” ou não, num raio de no mínimo 50 metros em relação à nascente. Além disso, esses lugares devem ser tratados com técnicas que evitem a erosão, para impedir que a água seja poluída.

Cinco passos são fundamentais para proteger uma nascente de água. São eles:

1) Identificar a nascente
2) Vedar a nascente
3) Limpar a área
4) Controlar a erosão
5) Replantar espécies nativas


Dependendo do mecanismo de funcionamento, é possível distinguir três tipos de nascentes:
A água de escorrimento superficial (1), proveniente das chuvas, junta-se em um lugar no qual a vegetação regula o escorrimento. Eliminando-se esta, após as chuvas haverá muita água na nascente e, alguns dias depois, esta secará.

A água das chuvas se infiltra e se localiza nos poros do solo e do subsolo (2). Esta água forma o lençol freático, que é como um manto abaixo da superfície. Se a topografia do terreno “corta” esse lençol de água, formar-se-á uma nascente. Para protegê-la, deve-se manter a capacidade de infiltração do solo em toda a área de recarga da água freática.

O terceiro caso corresponde a um aqüífero de rocha porosa (3) através do qual circula a água, podendo estar em nível mais profundo; se este, porém, é “cortado” pelo nível do terreno, a água aflorará. Para proteger esse tipo de nascente, devem-se manter boas condições de infiltração nos sítios onde a rocha se recarrega.


O que é uma bacia hidrográfica bem manejada

Em uma bacia hidrográfica como ambiente natural, sem a intervenção do homem, tudo funciona harmonicamente, integrando um sistema quase perfeito. As energias – calor e luz solar, a força da água ao cair e escorrer, a força das plantas ao crescer, das sementes ao germinar, da terra ao molhar-se e inchar-se, o peso da fauna ao mover-se sobre o solo e nas plantas, a energia com que as raízes absorvem nutrientes e água do solo – estão em um equilíbrio que se alcançou após centenas e, às vezes, milhares de anos. É uma luta de forças que não se vê, mas que existe na natureza.

No entanto, não se poderia dizer que uma bacia intocada esteja bem manejada e sim que está bem preservada. Para que se realiza um bom manejo, o homem deve ter a capacidade de usá-la, realizar ali suas atividades, produzir, recrear-se, viver no lugar, preservar os recursos e o funcionamento da bacia como um sistema, sem alterar o seu ciclo hidrológico, mantendo sua diversidade de flora e fauna e não degradando o Ambiente. Isso significa ter a capacidade de imitar o equilíbrio da Natureza. Se um sistema natural desaparece bruscamente, uma das energias porá as outras em “liberdade”, iniciando-se a degradação, pois o equilíbrio será rompido. Por isso, em uma bacia hidrográfica bem manejada, as energias devem ser controladas para regular seu efeito sobre os recursos naturais e o ambiente.

Para alcançar esse manejo, as ações e atividades do homem devem ser muito bem pensadas, de maneira a utilizar os recursos naturais, permitindo aos Renováveis renovar-se, e aos Não-Renováveis, como o solo, conservar sua potencialidade para produzir. Uma bacia bem manejada significa segurança, boa qualidade de vida, condições apropriadas para quem vive ali e segurança para o futuro. Para se alcançar isso, necessita-se de um enriquecimento cultural e que a comunidade sinta verdadeiro apreço e orgulho pelo esforço realizado para conseguir o manejo de sua bacia hidrográfica, bem como carinho e zelo por sua propriedade.

O que é uma bacia hidrográfica bem planeada

O planejamento de uma bacia nos leva a meditar, pensar e ordenar, até saber o que se deve fazer primeiro e o que se deve fazer depois; onde é possível fazer determinadas atividades e em que lugar se podem fazer outras. Assim, descobrir-se-á quais podem ser realizadas e quais não; que impactos positivos ou negativos serão produzidos. Há, também, a possibilidade de estudar, antes de intervir na bacia, a forma de corrigir possíveis efeitos não desejados. Fazendo-se um plano bem pensado, com a participação de todos e, quando possível, com o apoio técnico, será muito maior o número de impactos positivos e a situação será ótima, com benefício para todos.

Para planejar o uso de uma bacia, devem-se conhecer seus Recursos Naturais, as comunidades e o Ambiente em que vivem; verificar até que grau se pode modificá-los sem destruir o ciclo hídrico, a diversidade genética, a qualidade de suas águas e de seus solos. Toda bacia tem uma vocação, uma possibilidade de uso que está relacionada com suas características, com a técnica que se utiliza e com as mudanças ou artificialização que nela se produzam. Artificializar muito permite produzir mais, mas também siginifica aumentar os custos; porém, corrigir os impactos negativos que se produzem têm custos muitos maiores ainda. O melhor planejamento, de quem procurou estudar e conhecer, o mais humanizado, protegeria, em primeiro lugar, a diversidade genética e a capacidade auto-reguladora da natureza. Essa situação é alcançada com uma artificialização moderada, bom critério e senso comum para definir o uso da terra e as áreas que deverão ser preservadas.

Em geral, o planejamento permite alcançar condições de vida melhores, pois fazer uma análise prévia e um bom plano evita produzir impactos negativos severos. Isso se consegue simplesmente meditando-se bem sobre o que se vai fazer e pensando nisso antecipadamente, para saber o que ocorrerá se realizarmos uma determinação ação. O planejamento de uma bacia é trabalho de todos e não poderia ser feito somente por uma pessoa. Se não for realizado, o efeito dos impactos negativos será sentido a curto prazo.

O que é uma bacia hidrográfica degradada

Grande parte da água que chove em uma bacia hidrográfica escorre até o rio localizado no fundo do vale. Os rios formam bacias hidrográficas, seus afluentes formam sub-bacias. Os córregos e grotas, minibacias. Todas elas são unidades espaciais muito importantes para o planejamento e ordenamento do uso da terra. No rio, refletem-se a degradação, a erosão, a contaminação, a poluição e a cultura com que se usam os Recursos Naturais e o Ambiente de uma bacia. Isso lembra um pensador, que dizia: “A cultura de um povo se mede pela cor e pureza das águas de seus rios”.
Dir-se-á que uma bacia está degradada se: sua vegetação natural e sua fauna tiverem sido danificadas, com diminuição severa ou desaparecimento de alguma espécie; quando o solo estiver erodido ou tenha perdido sua fertilidade ou sua capacidade para produzir; se o ciclo hídrico estiver alterado ou as águas estiverem contaminadas; os peixes já não contarem com o ambiente requerido para viver;  a fauna já não tiver os frutos silvestres para sua alimentação, nem os refúgios naturais para proteger-se.

A degradação é isso e muito mais: é miséria, pobreza, dependência e vida de má qualidade; em síntese, é um freio ao desenvolvimento e insegurança para o futuro.

Suponhamos que uma pequena bacia, em que vivam em torno de 50 famílias, esteja degradada. Poderia ocorrer o seguinte:

1.       ciclo hidrológico destruído;
2.       desmatamento;
3.       solo compactado por pastoreio excessivo na parte alta;
4.       escorrimento e erosão ativa, mesmo nas áreas onde ocorrem solos profundos;
5.       cultivos de milho e soja na parte média da bacia, sem técnicas de conservação de solos e águas;
6.       escassez de água em córregos seis meses por ano;
7.       produção de hortícolas na parte baixa com uma colheita por ano e com problemas de irrigação, porque a quantidade de sedimentos dos córregos danifica as bombas;
8.       os poços secam rapidamente nos períodos sem chuvas.
Essa degradação poderia ser observada prontamente e, ademais, teria outras consequencias para as famílias, além das indicadas.

Os benefícios do planeamento e bom manejo de uma bacia hidrográfica

Tomaremos como exemplo o caso citado no último parágrafo do tema anterior. Suponhamos que essa comunidade organize as atividades da bacia da seguinte forma:
·         que, na parte alta, estabeleça faixas com anéis silvopastoris de gramíneas e leguminosas;
·         nos pontos de união dos anéis, plante frutíferas; que implante, intercaladas, outras faixas de árvores de boa folhagem e de utilidade florestal, por meio de tácnicas agroflorestais; que, na parte média, cultive milho e feijão, mas que se utilize plantio em curvas de nível e com aração mínima, com canais de infiltração ou absorção e, sobre cada canal, uma barreira viva de capim-limão; que, na parte baixa, continue e produção de hortícolas com água do córrego; nas cercas, plantem-se leguminosas arbóreas para lenha e biomassa para “mulch”.

Dessa forma, o benefício aumentaria progressivamente ao se produzirem vários impactos positivos:
·         na parte alta, conter-se-ia o fenômeno da erosão;
·         aumentaria a infiltração de água no solo;
·         manter-se-ia a pecuária, porém mais produtiva;
·         progressivamente, desenvolver-se-ia um recurso florestal;
·         multiplicar-se-ia a fauna, como um recurso complementar;
·      haveria frutas como complemento alimentar; na parte média, também aumentaria a infiltração, dando mais regularidade ao canal do córrego e estabilidade ao lençol freático, haveria uma oferta mais regular de água nos poços e deter-se-ia a erosão;
·         na parte baixa haveria águas mais limpas, os equipamentos de irrigação durariam mais;
·         os poços não secariam, não se gastaria energia nem tempo para trazer água de outros lugares;
·         haveria maior produção de hortícolas com a utilização do “mulch” e pela disponibilidade de água;
·         a comunidade teria abundância de águas de melhor qualidade.

Nesse caso, a comunidade já se organizou e capacitou, podendo enfrentar outros problemas, intercambiar alimentos com benfício para todos e, até mesmo, conseguir melhor comercialização para seus produtos.