quinta-feira, 28 de agosto de 2014

AULA 27: BENEFÍCIOS DA ALIMENTAÇÃO NATURAL

2. Benefícios da Alimentação Natural
(Capítulo 2 do Módulo 5 da Apostila do Curso de Agricultura Natural)

O que é Alimentação Natural

Antes de iniciarmos essa discussão, precisamos tentar definir o que, afinal, vem a ser alimentação natural. De fato, o termo em si carrega enormes ambigüidades e por vezes, na nossa opinião, acaba por ser usado de forma inadequada ou até inapropriada.

Há quem considere que se alimentar de forma natural seja simplesmente ingerir alimentos que não tenham sido processados em algum tipo de fábrica. Já outros, consideram a alimentação natural aquela feita exclusivamente com alimentos locais, naturalmente encontrados numa determinada região. Também existe a vertente que considera a alimentação natural sinônimo de alimentação vegetariana e ainda outra que valoriza o consumo de alimentos crus. Enfim, como podemos perceber o assunto é complexo e dependendo da ótica utilizada podemos até mesmo cometer injustiças com determinados alimentos, preparados ou não, desperdiçando preciosos recursos nutricionais ou ainda estratégias mais apropriadas para o desenvolvimento sustentável de certas regiões do planeta.

A abordagem de Mokiti Okada sobre esse assunto é bem distinta e como nosso trabalho vem sendo pautado pelo seu legado, também nessa questão tomaremos por base os seus Ensinamentos. Vejamos alguns trechos do seu trabalho:

"O que sustenta o espírito do homem é a energia espiritual dos alimentos; analogamente, a parte material destes é o que lhe sustenta o corpo. Portanto, a fonte de vitalidade humana está no provimento da energia espiritual. Consequentemente, a força ou a fraqueza do corpo estão relacionados ao maior ou menor provimento dessa energia. O fundamento da saúde é ingerir alimentos que contenham grande quantidade de espírito. Dessa forma, aumenta a vitalidade do espírito, o que promove o fortalecimento do corpo. Os inúmeros fortificantes refinados que existem estão com a sua energia espiritual muito escassa e, por conseguinte, quase não têm mais força para sustentar o espírito. Por isso, mesmo que a pessoa tome uma grande quantidade deles, a sua força vital não aumentará. Seria muito mais inteligente ingerir alimentos como verduras frescas."

"A propósito: quantas pessoas conhecem realmente o sabor dos vegetais? Diríamos que pouquíssimas. Isso porque não há vegetais em que não tenham sido utilizados adubos químicos e esterco. Absorvendo esses elementos, os produtos acabam por perder o sabor atribuído pelos Céus. Se, ao invés disso, fizermos com que absorvam os nutrientes da própria terra, eles irão manter o seu sabor natural e, portanto, serão muito mais saborosos."

Acreditamos que deve ter ficado claro qual o caminho a ser seguido quando tentarmos definir o que vem a ser uma alimentação natural. O principio básico ensinado por Mokiti Okada é o de que alimento natural é todo aquele rico em energia vital. Uma discussão mais aprofundada do termo energia vital foge do âmbito dessa apostila, mas podemos fazer algumas reflexões a respeito.

O fundamento do nosso trabalho com a Agricultura Natural é o respeito às Leis da Natureza. Isso nos já sabemos e já discutimos bastante vários aspectos relacionados ao manejo ecológico do solo e a busca pela sustentabilidade dos nossos campos através do sistema de cultivo proposto. Na mesma linha de raciocínio usada para tentar explicar quais os mecanismos naturais de cultivo do solo, também  podemos dizer que uma das formas de definir alimento natural é tentar buscar valorizar sua própria natureza original. Ou seja, quanto mais puro for determinado alimento maior será o seu nível de energia vital. Fica muito claro perceber isso nos Ensinamentos de Mokiti Okada quando ele se refere ao método pelo qual esses alimentos foram produzidos.

Por outro lado, não queremos dizer que alimentos naturais seriam somente aqueles consumidos frescos. Temos de considerar também os alimentos ditos processados. O que estará em causa então será a forma com que esse processamento será feito, quais os ingredientes extras os alimentos sujeitos a esse processamento receberão e ainda quais os níveis de impacto que essa atividade exercerá no seu próprio meio-ambiente.

Quando Mokiti Okada nos ensina que assim como o ser humano os alimentos têm uma parte material e uma parte espiritual, iremos inevitavelmente precisar considerar que nossos alimentos possuem muito mais do que os comumente chamados nutrientes. De fato, o próprio conceito de nutriente, tal como o define Mokiti Okada, assume toda uma nova concepção. Assim, o pensamento-sentimento-ação com o qual obtemos nossos alimentos e deles fazemos uso, de certa forma também influenciará o seu grau nutricional.

Vamos dar um exemplo para tentar tornar as coisas um pouco mais claras. Imaginemos que num determinado local alguém resolva cultivar mandiocas pelo método da Agricultura Natural. Essa pessoa então prepara o solo, distribui diversas culturas agrícolas de apoio de modo a favorecer a biodiversidade e promover o manejo ecológico de sua propriedade, implementa boas praticas de higiene prevendo a manipulação da mandioca num futuro processamento, etc. Vamos imaginar também que na região onde esse nosso amigo(a) vive, a farinha de bombô (uma espécie de fécula fermentada de mandioca) tem grande aceitação no mercado local. Sendo assim, o objetivo será a produção dessa farinha obtida a partir de mandiocas cultivadas pela Agricultura Natural, o que sem dúvida poderá ser um negócio muito interessante e rentável. Para tanto, é construída uma estrutura para fermentar as raízes descascadas de mandioca como uma parte importante de uma pequena agroindústria familiar. A farinha de bombô é então produzida e rotulada como "Farinha de Bombô Natural". Será mesmo? Esquecemos de mencionar um pequeno detalhe: no agroprocessamento das raízes, as água oriundas da fermentação, ricas em matéria orgânica e facilmente putrecíveis são despejadas, nesse nosso exemplo, diretamente no rio mais próximo...

Evidentemente que já não faz sentido, a essa altura das nossas discussões, desenvolver qualquer atividade que seja que não tenha por base a sustentabilidade de todo o nosso sistema agrícola. Isso inclui, portanto, não apenas o cultivo do alimento em si mas também toda a cadeia de eventos futuros decorrentes, por exemplo, do processamento desse mesmo alimento. No nosso exemplo, as águas residuais do processo de fermentação da mandioca para a obtenção do bombô precisam ser tratadas adequadamente e dispostas no meio ambiente de modo a não comprometer todo o ecossistema envolto.

Demos, com o exemplo acima, um passo fundamental para complementar a definição de alimento natural. Do ponto de vista de uma ética ambiental global, não teria nenhum sentido tentarmos promover nossa saúde com alimentos que, num momento ou outro, estariam provocando danos muitas vezes de difícil remediação no ambiente e na saúde de todas as pessoas diretamente e indiretamente envolvidas com as várias etapas de sua produção e industrialização. Lembremos que uma das distinções feitas pela maioria daqueles que praticam a Agricultura Natural é que esse método, ou sistema agrícola, não agride a Natureza. Portanto, é lógico concluir que alimento natural também é aquele que não prejudica o seu, o meu e o nosso meio ambiente.

Finalmente, podemos então, de posse desses últimos conhecimentos, tentar definir alimentação natural como aquela através da qual as pessoas conseguem obter sua própria saúde verdadeira, garantir o bem estar do seu meio ambiente e ainda a sua preservação para as gerações futuras.

Nos dias de hoje, talvez ainda seja difícil conseguirmos nos alimentar de forma 100% natural. Não apenas pela reduzida oferta de produtos cultivados segundo os fundamentos da Agricultura Natural mas também pelo tipo de impacto negativo ao meio ambiente que nossa forma tecnocrata de viver acaba por impor no nosso mundo. Porém, acreditamos que o esforço para se conseguir alimentar as pessoas de forma plenamente natural, com todas as dimensões já discutidas aqui, deve fazer parte do dia a dia de todos aqueles envolvidos com o trabalho da Agricultura Natural.


Alimentação simples: uma forma de promover a verdadeira saúde do ser humano

Vamos a mais um trecho dos Ensinamentos de Mokiti Okada:

"(...) Os órgãos do corpo humano produzem os nutrientes necessários à manutenção da vida. Intensificar a sua actividade deve ser a condição principal na questão da saúde. A infância e a juventude são as épocas em que a produção de nutrientes é mais intensa e, por isso, nós nos desenvolvemos. Assim, para adquirirmos vida longa, precisamos rejuvenescer os nossos órgãos.

E qual é o método a ser empregue? É ter uma alimentação bem simples. Através desta, os órgãos precisarão de desenvolver uma intensa actividade, caso contrário, não conseguirão produzir os nutrientes necessários. Portanto, a primeira coisa a ser feita por quem deseja uma vida longa, é rejuvenescer os órgãos, pois, se eles rejuvenescerem, é lógico que todo o corpo rejuvenescerá. (...)"

São incontáveis os exemplos que encontramos na literatura e traduções de comunidades espalhadas pelo mundo que, baseada em um tipo mais simples de alimentação, são possuidoras de uma saúde invejável por muitos. Mesmo no caso de nossos parentes mais velhos, ainda é possível ouvir de sua própria boca histórias que dão conta de como eles conseguiam se nutrir plenamente com alimentos bastante simples.

Não está ao alcance dessa apostila um aprofundamento no funcionamento de nossos órgão internos, nem tão pouco os processos metabólicos pelos quais passam os alimentos ingeridos. Vamos considerar apenas que, de fato, a ingestão de alimentos mais simples nos ajuda a alcançar um estado de saúde muito mais interessante, como afirma Mokiti Okada.

Também vamos aqui fazer referência ao que já foi discutido anteriormente quando falamos da importância de prestarmos mais atenção aos alimentos locais e tradicionais. Se pensarmos bem, não seriam justamente essas plantas exemplos concretos de uma alimentação mais simples? Mas vejam bem, não estamos aqui querendo dizer que a alimentação do ser humano deva ser sem sabor ou ainda sem beleza. Pelo contrário, pois como também nos ensina Mokiti Okada "o ser humano deve se alimentar daquilo que lhe for saboroso e aprazível". Ou seja, nosso alimento precisa ser saboroso e também belo, tanto no seu aspecto quanto na beleza de sua tradição cultural. Assim sendo, os alimentos tradicionais, preparados a partir de ingredientes mais simples e/ou locais e ainda que representam muitas vezes parte da expressão cultural de um povo, também podem ser enquadrados nessa categoria de alimentação frugal. Claro que excessões sempre vão existir e é bom estamos atentos para isso.


Descobrindo os Alimentos Naturais

Acreditamos que já deu para o leitor perceber que alimento natural também passa a ser um conceito e não meramente uma definição restrita a um determinado ponto de vista ou outro. Quer dizer, existem muitos aspectos que precisam ser considerados quando quisermos reconhecer um alimento como sendo natural. Evidentemente que a produção agrícola sem o uso de adubos artificiais ou defensivos químicos é uma das condições básicas para o alimento começar a ser considerado natural. Mas assim como a própria Agricultura Natural, os alimentos naturais talvez também tenham de ser considerados em sua totalidade, ou seja, em sua amplitude original. Talvez o alimento natural venha a existir no nível em que uma pessoa ou comunidade se encontrar. Dentro de cada realidade um alimento natural poderá assumir diferentes graus de pureza porém sem fugir ao seu conceito original.


No alto, flor da vinagreira, usada na produção de chás e como complemento em saladas. Em baixo, uma variedade de tsec (amaranto) cujas folhas são muito nutritivas e saborosas.


Por exemplo, numa comunidade tipicamente rural o alimento natural pode se assumir como todo aquele que além de conseguir ser cultivado pela Agricultura Natural, também consiga representar tradições culturais que elevem o estado de espírito de seus membros. Já numa sociedade mais tecnocrata e ancorada na industrialização, o alimento natural pode se apresentar como aquele oriundo de processos que levem em conta os níveis de impacto ambiental para a sua produção, processamento e comercialização.

De qualquer forma, talvez mais importante do que tentar definirmos o que vem a ser afinal alimento natural seja compreendermos a importância de buscarmos a verdadeira saúde e nesse ponto, o ser humano passa a ter uma enorme responsabilidade com o que ele consome. Como Mokiti Okada deixou bem claro, os alimentos que o ser humano ingere tem a função de nutrir não somente o corpo físico mas também seu espírito. Então, como já dissemos anteriormente, o alimento natural precisa ser rico em energia vital. Isso passará também por termos a consciência de que ele foi produzido da maneira correta e chegou às nossas mãos tendo respeitado tudo e todos.

Por último, caberá talvez a cada pessoa reconhecer o seu próprio "alimento natural" a partir do momento em que for capaz de reconhecer também toda a sua gênesis e toda a sua "pegada ambiental".

domingo, 24 de agosto de 2014

AULA 26: ALIMENTOS LOCAIS E TRADICIONAIS

1. Alimentos locais e tradicionais
(Capítulo 1 do Módulo 5 da Apostila do Curso de Agricultura Natural)



Introdução

Vamos iniciar esse nosso módulo sobre alimentação natural citando um dos Ensinamentos de Mokiti Okada:

"(...) Dessa maneira, alimentos que contêm energia vital, não são apenas isentos de aditivos, sendo, por isso, seguros. Mas, também, proporcionam àqueles que os consomem uma maior energia vital. Os cereais e as hortaliças [hortícolas] que são cultivados pelo método da Agricultura Natural, mesmo guardados, conservam-se melhor do que os cultivados pela agricultura convencional. O motivo é que eles não possuem as toxinas dos adubos e a sua energia vital é mais forte.

Além dessas condições, para ser considerado alimento que contém energia vital, o princípio básico “o homem e a terra são inseparáveis” deve ser vivificado.

Está de acordo com as Leis da Natureza o homem alimentar-se de produtos da safra e da terra em que nasceu e cresceu.

Apesar de existir alguma diferença, dependendo do clima e das características da região, todos os alimentos são produzidos de maneira adequada às pessoas aí nascidas."
Extraído do livro: Colectânea Agricultura e Alimentação Natural. Africarte, 2012.

A alimentação de grande parte da nossa sociedade contemporânea está baseada em pouco mais de algumas dezenas de alimentos diferentes. Já mencionamos anteriormente que há cerca de 100 anos a humanidade conhecia e cultivava aproximadamente 10.000 espécies diferentes de plantas comestíveis. Hoje, segundo dados da FAO, esse número não chega a 200 espécies. Pior, destas quase 200 cerca de 30 plantas são responsáveis por 95% do gasto de energia necessária para a produção agrícola, ou falando de outra maneira, essas 30 plantas são as responsáveis por 95% de tudo o que se produz no mundo em termos de alimentos humanos e não-humanos, incluindo nessa ultima categoria, além dos animais, os veículos automotores que funcionam com combustíveis "verdes".

Numa aula que demos para um grupo de estudantes, pedimos para que todos eles relacionassem quais os alimentos que haviam consumido nos últimos três dias. Por exemplo, se alguém tivesse comido macarrão então devia reportar trigo; se comeu frango, então devia reportar milho e soja, já que esses dois cereais são a base da alimentação das aves, e assim por diante. O resultado desse pequeno exercício serviu para mostrar o quanto estamos dependentes de poucas dezenas de alimentos, pois ao final da aula, quando tabulamos todos os resultados, o número de alimentos diferentes dentre todos do grupo não chegou a 30! Faça o estudante mesmo esse exercício e reporte quais os alimentos que comeu na ultima semana. Temos certeza que, na média, a maioria de nós está "confinada" a um grupo pequeno de alimentos. E não é por acaso que a maioria absoluta desses alimentos são justamente aqueles nos quais a indústria alimentícia e agrícola investe bilhões de dólares todos os anos em pesquisas, principalmente nas chamadas tecnologias de ponta como a dos alimentos transgênicos.

Na contramão dessa tendência, existem ainda verdadeiros tesouros quase escondidos, muitas vezes, nos nossos próprios quintais e machambas. Muitos dos "matos" que nascem espontaneamente entre os canteiros de nossas culturas modernas ou naqueles espaços que deixamos de trabalhar por algum tempo, são na verdade alimentos riquíssimos em vitaminas e diversos nutrientes. A sua presença espontânea já indica uma forte aptidão, alcançada após milhões de anos de evolução natural, em retirar de determinado tipo de solo a força necessária para o seu desenvolvimento.  Essas culturas recebem, muitas vezes, a denominação de plantas alimentícias não-convencionais (PANC) ou ainda culturas órfãs, pois vêem sendo esquecidas, propositalmente ou não, ao longo dos anos. A grande maioria dessas culturas não faz parte de programas de pesquisa e desenvolvimento agrícola, apesar de se reconhecerem, baseados em dados da literatura científica, seus diversos benefícios e facilidades de cultivo. Pior ainda, muitas dessas culturas órfãs estão a ser extintas e dentro de pouco tempo só serão encontradas referências delas nos livros de história.

Já mencionamos também que nossa sociedade moderna é refém de uma cultura midiática, baseada em  elaborados programas de propaganda e marketing. Pergunte a uma pessoa qualquer qual a primeira imagem que lhe vem a cabeça quando você diz a palavra "salada" e perceberá que quase sempre na resposta vão estar relacionadas as folhas de alface, o tomate e a cebola, com algumas poucas variações de outros ingredientes complementares. Isso não é por acaso pois a televisão nos bombardeia diariamente com esse tipo de informação e até nos livros didáticos da escola encontraremos essas referências.

Poucas pessoas sabem, por exemplo, que as folhas da batata-doce cruas dão excelentes saladas e que estas podem ser incrementadas com um grande número de outras folhas e raízes. Os próprios tomates tradicionais, grandes e vistosos, podem ser substituídos por seus parentes ancestrais, aqueles tomatinhos que nascem facilmente no quintal e demandam muitos poucos tratos culturais. As folhas de alface podem ser substituídas por folhas de vinagreira, uma planta de origem africana e adaptada aos rigores do clima árido e que nos fornece folhas saborosas e extremamente nutritivas. No geral, as plantas locais, por estarem melhor adaptadas, impõem muito menos pressão ao meio ambiente para serem produzidas e isso inclui consumirem menos água, poderem ser cultivadas em solos relativamente pobres em nutrientes, agüentarem os rigores do inverno ou do verão, etc.

A força natural dos alimentos locais

No século XVI os espanhóis chegaram ao que hoje conhecemos como Vale dos Incas, no Peru. Em busca do ouro, eles se depararam com uma sociedade bem organizada e desenvolvida e que tinha na agricultura a base de seu desenvolvimento. Os incas eram capazes de prover o sustento de sua sociedade cultivando cereais como diversas variedades de milho, legumes como os tomates e tubérculos como as batatas. Todas essas plantas têm sua origem na região andina e rapidamente foram levadas, inicialmente pelos conquistadores espanhóis, a várias partes do mundo. Consta que quando os espanhóis tiveram os primeiros contatos com os povos incas, estes tinham batatas armazenadas para até 15 anos, pois usavam uma técnica, que ainda hoje é conhecida por algumas daquelas comunidades remanescentes, que permitia a conservação daquele tubérculo desidratado por longos períodos de tempo.

Porém, além das batatas, tomates e grãos de milhos, os incas também cultivavam outros tipos de plantas como os amarantos e a quinoa. Estas plantas, diferentes das outras que citamos anteriormente, tinham um desenvolvimento espontâneo e eram, muito provavelmente, de facílimo cultivo. Não precisou de muito tempo para os conquistadores espanhóis perceberem que esses alimentos fáceis de serem cultivados eram muito ricos nutricionalmente e deles vinham boa parte das forças dos guerreiros incas, e ainda que essa força dificultava muito a conquista e dominação daquele território. Ao longo das primeiras décadas após o contatos iniciais com os incas, os espanhóis levaram a cabo um verdadeiro processo de dizimação dos campos de amarantos e quinoa pois sabiam que guerreiros bem alimentos tendiam a ser mais fortes fisicamente e tinham mais facilidade de raciocínio.

Essa história foi desenterrada há pouco mais de 30 anos quando um professor peruano, o Dr. Luis http://www.youtube.com/watch?v=T1Ccn2xk71o Kalinowisk, pesquisando o valor dos alimentos antigos, redescobriu a quinoa e o amaranto. Desde então, esses dois alimentos ganharam enorme exposição nos meios de comunicação e hoje em dia são considerados verdadeiros superalimentos.

O que pouca gente sabe no entanto é que o amaranto, esse alimento que vem ganhando fãs no mundo todo, faz parte de uma família de plantas cosmopolitas e que nascem praticamente sozinhos em qualquer espaço de chão. Até mesmo nas sarjetas e frestas de muros é possível encontrar plantas dessa família que em muitas regiões recebem nomes específicos. Em Moçambique, por exemplo, são conhecidos como tsec, em Angola como jimboa, no Brasil caruru e assim por diante. Infelizmente, também não é difícil encontrar referências a essas plantas nos manuais agrícolas convencionais como pragas e ervas invasoras, a despeito de suas excepcionais qualidades nutricionais.

E há ainda um outro ponto interessante. Percebemos que em Maputo a simples referencia pública ao consumo de tsec remete a uma espécie de preconceito pois muitos consideram que pessoas que comem esse tipo de alimento não possuem condições mais dignas de sobrevivência. Ou seja, por nascerem em qualquer lugar acabam sendo extremamente baratas e fazem parte da dieta das populações mais vulneráveis economicamente. Pelo menos em tese... O que descobrimos, com o tempo, é que na verdade muitas famílias chegam a "exportar" folhas de tsec para seus parentes que vivem no exterior,  inclusive na Europa. Esse alimento, além de nutritivo, é muito saboroso e faz parte de uma espécie de culinária tradicional. No entanto, muitas vezes por tabu, como já nos foi relatado, o seu consumo se dá de forma bem discreta, principalmente pelas famílias mais abastadas.

Assim como o amaranto, diversas outras plantas vêem sendo redescobertas nos últimos anos e felizmente já existem movimentos organizados em vários países cujo objetivo é o resgate de hábitos alimentares ancestrais e a preservação desse precioso recurso genético que são os alimentos locais e tradicionais. Do ponto de vista da Agricultura Natural e tendo por base os Ensinamentos deixados por Mokiti Okada, fica evidente que a valorização desse tipo de alimento está condizente com a filosofia de trabalho proposta por uma forma mais natural de cultivar o solo. E é fácil perceber isso quando lembramos, por exemplo, de uma discussão anterior nesse curso, na facilidade com que plantas típicas das regiões tropicais têm em se desenvolver mais quando comparadas às plantas oriundas de climas mais frios. Isso tem a ver com a melhor aptidão ao tipo de clima, regime de chuvas e qualidade do solo. Quando tentamos cultivar plantas oriundas de ecossistemas tipicamente diferentes daqueles em que estamos tentando trabalhar, devemos ter em mente que nossos sistemas tenderão a um aumento da sua artificialidade. Esse aumento da artificialidade não será necessariamente negativo mas implicará, quase sempre, em maiores demandas de recursos naturais.

Por esse raciocínio, portanto, quanto mais adaptada uma planta estiver a um determinado ecossistema mais facilmente ela poderá ser cultivada e mais natural tenderá a ser esse cultivo. Também precisamos levar em consideração o fato de que para se desenvolverem em seus ambientes originais, a maioria das plantas desenvolveram mecanismos de sobrevivência que nos poderão ser muito úteis. Existe um conceito repassado de geração a geração entre os remanescentes dos povos incas na América do Sul que ensina que quanto mais difíceis forem as condições de desenvolvimento de uma planta, mais energia vital terá os seus frutos. O raciocínio é bem lógico, pois mostra que toda a estratégia de desenvolvimento das plantas locais se dá no sentido de acumular o máximo de energia do seu ecossistema. Transportando esse raciocínio para a Agricultura Natural, fica fácil perceber o valor estratégico de prestigiar o cultivo e o consumo dos alimentos que naturalmente nascem, crescem e se desenvolvem numa determinada região.

"O homem e a terra são inseparáveis"

Em África, e em particular Moçambique, essa relação homem-terra é bem evidente. Por exemplo,  niamunda é uma expressão que retrata bem o espírito de manter as pessoas conectadas à terra através de suas machambas. Numa tentativa de tradução poderíamos dizer que o termo significa vamos à machamba e essa expressão é usada até mesmo como nome de escolas primárias, o que demonstra como a terra está ligada ao dia a dia das pessoas desde a mais tenra idade no país.

Por toda a África podemos encontrar referências da ligação do ser humano com a terra e esse elo parece nunca ter se rompido. De fato, é cada vez mais notória a sensação de que os camponeses, principalmente os africanos, estão ganhando mais consciência de seu papel social e principalmente ambiental e a preservação de hábitos culinários ancestrais vem de encontro aos anseios de milhares de agricultores espalhados pelo continente e também ao redor do mundo, ávidos por verem valorizados os seus esforços de trabalho com a terra. Por outro lado, sempre nos perguntamos como seria possível praticar uma agricultura concorde com as Leis da Natureza usando o raciocínio convencional de produção industrial de alimentos. A grande questão que vem à tona é o fato de que para atender a esse tipo de sistema de produção somos forçados cada vez mais a artificializar os nossos campos, a despeito dos nossos próprios sentimentos naturalistas.

Falando de outro modo, quando passamos a valorizar o alimento local, estamos de certa forma valorizando também a própria Natureza em sua totalidade global, dentro do princípio de agir localmente pensando globalmente. Recentemente demos um exemplo prático numa de nossas machambas a um grupo de visitantes. Naquele local semeamos uma espécies de rúcula silvestre que dá uma florada muito bonita e persistente. Além da rúcula, deixamos crescer algumas outras ervas que também dão flores silvestres muito apreciadas pelas abelhas e diversos outros insetos. Tivemos a oportunidade de mostrar ao grupo que favorecendo a Natureza, plantando e cultivando espécies locais e deixando que as plantas espontâneas se desenvolvam, recebíamos em troca a polinização eficiente de nossos canteiros de tomate. Como temos sempre a biodiversidade favorecida em nossas machambas e ainda valorizamos muitas das espécies de plantas locais, a Natureza acaba nos retribuindo com o desenvolvimento otimizado de algumas culturas "estrangeiras" como são os nossos tomates em Moçambique. Com os morangos acontece a mesma coisa nos nossos campos e a lista segue com as alfaces, batatas, ervas aromáticas e muito mais.

Não estamos pregando, no âmbito da prática da Agricultura Natural, o fim do cultivo de espécies agrícolas que não sejam originais de um determinado lugar. O que estamos a incentivar é a valorização daquilo que nasce naturalmente em cada região. Do ponto de vista natural, o cultivo de plantas que se adaptam melhor numa região irá favorecer todo o sistema, pois, como já dissemos, necessitarão de bem menos recursos naturais e artificialidades do manejo agrícola. Essa facilidade de cultivo, na nossa opinião, pode e deve ser usada como estratégia na produção de alimentos verdadeiramente saudáveis e ricos nutricionalmente. Vivificando a relação com os frutos naturais da terra, respeitando suas origens e ciclos de desenvolvimento, também estaremos vivificando a própria terra da qual nossas comunidades fazem parte. Esse princípio, ensinado por Mokiti Okada, certamente garantirá a força vital dos alimentos necessária para nutrir não apenas nossos corpos mas também nosso espírito, criando um verdadeiro ciclo virtuoso. Quanto mais valorizarmos nossos alimentos ancestrais e locais, mais nutritiva será nossa comida e mais fortes e saudáveis serão as pessoas. Quanto mais fortes e saudáveis, mais inteligentes serão e mais rapidamente perceberão as vantagens de trabalhar em conjunto com a Natureza e não conta ela.

Alimentos tradicionais ou não-convencionais

Na mesma linha de raciocínio usada para descrever os alimentos locais, também temos os chamados alimentos tradicionais. Muitas frutas, legumes e hortícolas se enquadram nessa categoria e de uma forma geral consideramos como tradicional todo o alimento, de origem local ou não, que exerce influência na alimentação de uma população tradicional. E também como no caso dos alimentos locais, normalmente não estão organizados enquanto cadeira produtiva propriamente dita, não despertando o interesse por parte de empreses de sementes, fertilizantes ou agroquímicos.

Contudo, o resgate e a valorização das variedades tradicionais de alimentos, em especial as hortícolas,  representam ganhos importantes do ponto de vista cultural, econômico, social e nutricional. Em muitas regiões do mundo, o cultivo desses alimentos é feito na sua grande parte por populações tradicionais (agricultores camponeses) que preservam o conhecimento acerca de seu cultivo e consumo, passando-o de geração a geração.

Os alimentos tradicionais podem ou não ser edáficos, ou seja, podem ou não ter origem local. Muitas vezes por sua capacidade intrínseca de adaptação aos mais variados climas e tipos de solo, muitos desses alimentos foram sendo distribuídos geograficamente e ao longo de gerações acabaram sendo incorporados à cultura de determinados locais.

Um interessante estudo desenvolvido pelo botânico Valdely Kynupp, ao analisar as propriedades nutricionais de mais de 1.500 plantas diferentes e facilmente encontradas no sul do Brasil. Muitas das espécies estudadas são, a exemplo dos amarantos, plantas cosmopolitas e sendo assim, estão amplamente distribuídas por todo o planeta Terra. Uma referência ao trabalho de Kynupp pode ser encontrado no sitio da internet (http://www.youtube.com/watch?v=T1Ccn2xk71ohttp://www.youtube.com/watch?v=T1Ccn2xk71o). Um ponto que chamou muito a nossa atenção no trabalho desenvolvido por ele é o que diz respeito às chamadas plantas alimentares não-convencionais (PANC's). Diferentemente do que ocorre com os alimentos tradicionais e locais, muitas dessas plantas são quase totalmente desconhecidas como alimento. E realmente exemplos não faltam.


sábado, 23 de agosto de 2014

Material para estudo

ARTIGO

Colonização e independência em Moçambique: hábitos alimentares em mudança
www.slowfoodbrasil.com

O sul de Moçambique, com uma população total de cerca de 4 milhões de habitantes, distribuída em três províncias (Maputo, Gaza e Inhambane), é uma região onde as pessoas têm mais ou menos os mesmos hábitos alimentares. Esta similaridade está provavelmente ligada ao fato de que antes da fixação portuguesa em Moçambique, durante o século XV, nesta região formou-se o segundo maior império da África, o Império de Gaza. Este império foi constituído pelos ngunis (um grupo populacional bantu do sul da África), que, como resultado de um conflito civil, foram empurrados para aquela região. Os ngunis, que eram guerreiros, ocuparam aquela região por volta de 1820, dominando, para isso, os povos que ali estavam instalados (os tsongas, vandaus, e bitongas).

A principal atividade econômica dos bantus era a agricultura de sequeiro e a criação de animais voltados para a subsistência. No âmbito das diversas estratégias de sobrevivência, que constituem os modos de vida da população, o uso dos recursos naturais não estava apenas limitado ao cultivo da terra, mas incluía também a caça e a coleta de produtos florestais e de plantas medicinais, entre outras atividades. As principais culturas ligadas à alimentação bantu incluíam os cereais (milho, sorgo, milheto, arroz); as leguminosas (diversos tipos de feijões e amendoim); a batata doce, o nhame, a mandioca e uma variedade de vegetais (hortaliças). No entanto, desde a chegada dos portugueses, no século XV, o País vem sofrendo profundas transformações políticas, econômicas e sociais, que afetam os sistemas alimentares.

Durante a colonização portuguesa, que durou mais ou menos cinco séculos, os portugueses impuseram uma mudança nos hábitos alimentares africanos, imposição que circunscreveu-se em um âmbito mais geral de "civilização". Como parte desse "processo civilizatório" foram impostos aos negros novos valores em relação à alimentação, como, por exemplo, o consumo de arroz ao invés de farinha de milho e a introdução de pratos feitos à base de óleos vegetais. Cabe realçar que a comida tradicional moçambicana é composta por um número diversificado de pratos feitos à base dos produtos da roça [machamba], sendo que entre esses pratos destacam-se, no sul, a matapa, cacana, xiguinha, xinguinhonguana, macoufo, nhangana, entre outros. Todos possuem uma característica em comum: o fato de que o amendoim pilado é o condimento principal do caril, o qual é sempre servido acompanhado da farinha de milho. Esse fenômeno de imposição de nova comida foi particularmente importante nas grandes cidades, como é o caso de Lourenço Marques (nome com que era conhecida a capital de Moçambique, Maputo, durante o período colonial).

Dentro dessa "política de civilização" dos nativos, buscava-se substituir/acabar gradualmente com a cultura africana. Nos anos 1960, em virtude do recrudescimento da luta de libertação do País, os portugueses começaram a criar uma série de oportunidades para os africanos. A educação foi uma das áreas que se beneficiou dessa mudança na política portuguesa. Nas escolas de ensino primário, que antes tinham sido concebidas para o ensino de crianças brancas, começou-se a admitir também crianças africanas, sob a condição de que se tornassem assimiladas. Isso significa que os pais das crianças africanas deveriam atestar, entre outras coisas, a capacidade de assegurar para os seus filhos uma merenda diária, composta por um sanduíche [sandes] contendo bife, manteiga, queijo e outros alimentos "modernos".

Por outro lado, no contexto da política de colonização, os portugueses também assinaram, já no século XX, um acordo com a República da África do Sul (RSA) para o fornecimento de mão-de-obra masculina moçambicana para as minas de ouro daquele País. Ao abrigo desse acordo, os portugueses recebiam em troca da mão-de-obra barras de ouro, importantes para a economia de Portugal. As implicações desse fenômeno sobre os sistemas agrários de Moçambique ainda não estão suficientemente estudados. No entanto, supõe-se que o processo de migração de mão-de-obra para as minas sul-africanas pode ter tido um grande impacto na oferta de mão-de-obra para a atividade agrícola familiar, uma vez que no sul de Moçambique, onde esse processo foi mais significativo, os homens é que são responsáveis pelas lavouras e destroncas (preparo da terra). Apesar disso, esse processo de envio forçado de mão-de-obra masculina para as minas sul-africanas parece ter sido importante para certa manutenção dos hábitos alimentares dos povos no sul de Moçambique.

Cabe lembrar que a África do Sul foi colonizada pelos holandeses e depois pelos ingleses, num processo que foi diferente do processo de colonização de Moçambique, particularmente no que diz respeito aos hábitos alimentares.  Isso porque aos negros sul-africanos não lhes foi imposta uma mudança obrigatória dos hábitos alimentares, sobretudo no que se refere ao consumo de farinha de milho como prato principal. Vale salientar que nas companhias mineiras da África do Sul a farinha de milho, além de constituir a comida principal dos sul-africanos, é considerada mais forte que o arroz (comida de brancos) e, por isso, apropriada para aguentar o trabalho pesado requerido na mina. Desse modo, a manutenção do consumo de farinha de milho pelos homens que trabalhavam nas minas da África do Sul representou uma certa resistência ao consumo de arroz, imposto pelos portugueses.
Essa resistência ao arroz (visto como comida de branco) parece ter sido reforçada em Moçambique durante a década de 1980, quando o País esteve mergulhado no conflito civil que levou milhares de pessoas a refugiarem-se nos países vizinhos, principalmente Malawi, África de Sul e Zimbabwe, onde a farinha de milho é a comida principal.

Hoje, depois de um conflito que durou 16 anos, Moçambique continua a lutar pela reconstrução de seu tecido social, dilacerado naquele período. No entanto, a independência e o fim do conflito colocam aos moçambicanos novos desafios no que diz respeito aos hábitos alimentares, sempre influenciados pela colonização. Maciel e Menasche (2003), em artigo em que analisam o processo de conformação da "cozinha brasileira", referem que é comum que o processo de construção de uma cozinha em um país colonizado seja descrito como um somatório de influências. No entanto, esse  processo é complexo e implica confrontos, associações e exclusões. Os pressupostos dessa análise residem na consideração de que a cozinha de uma sociedade indica seus valores.

Assiste-se hoje, no Moçambique independente, uma tensão entre a modernidade e a tradição: seria uma crise de identidade? Nota-se uma crescente perda de valores ligados aos costumes, sendo cada vez mais generalizada a idéia de que a comida preparada à base de óleos é melhor e tem mais valor do que as "comidas verdes" tradicionais (a matapa, a cacana, xiguinha, xinguinhonguana, macoufo, nhangana, etc.), geralmente associadas à idéia de pobreza. Cabe destacar que no "processo civilizatório" os portugueses também inculcaram nos moçambicanos a idéia de que as comidas verdes eram inferiores. Hoje, comer bem, nas diferentes classes sociais significa: (i) para os pobres, ter pelo menos pão, peixe, arroz e farinha de milho - nesta classe esses produtos podem ser intercalados com pratos tradicionais, desde que esses últimos não tenham uma grande regularidade; (ii) para a classe média, consumir com relativa regularidade batata inglesa, arroz, pão, frango, carne; (iii) para a classe alta, consumir com frequência e em quantidade, para além dos produtos da classe média, as lagostas, camarões, etc.

Observam-se, inclusive, constrangimentos em relação ao consumo de alimentos das classes inferiores, sobretudo em locais públicos. Por exemplo, alguém situado nas camadas médias sentir-se-ia envergonhado em comer feijão em um lugar em que as pessoas saberão que o fez (feijão é considerado comida de pobre) (4). Talvez seja por causa desses preconceitos que as pessoas não têm o hábito de comer na rua em Moçambique, prática que é mais comum nos países vizinhos, de colonização inglesa.

A expansão da energia elétrica e da televisão são fatores importantes que contribuem significativamente para uma rápida assimilação de novos valores da "modernidade" em relação à alimentação. De acordo com Garcia (2003:2), a adoção da dieta "afluente" (caracterizada pela diminuição no consumo de carboidratos e excesso do consumo de gorduras e açúcares) tem-se expandido, sobretudo em situações de prosperidade econômica (...) embora nos países mais pobres essas tendências de consumo estejam distribuídas diferentemente nos segmentos de classes sociais de acordo com as possibilidades de acesso aos bens de consumo, no plano simbólico os desejos de consumo por si só marcam uma inclinação a este perfil alimentar.

Como corolário dessa mudança nos hábitos alimentares e da falta de informação sobre o que é comer bem, assiste-se hoje, em Moçambique, sobretudo no meio urbano, o recrudescimento de doenças, como a diabete, a obesidade e as doenças circulatórias, que outrora eram vistas como sendo características dos países ricos.

De acordo com Fischler (1995:65), "a cozinha de um grupo humano pode conceber-se como um corpo de práticas, representações e de regras e normas que repousam sobre classificações e uma das funções essenciais desta construção é a resolução do paradoxo do omnívoro". O paradoxo do omnívoro é uma das particularidades com que o homem se vincula à comida: resulta de seu caráter biológico e caracteriza-se pela contradição entre sua capacidade de adaptar-se às mudanças - a liberdade de escolher, dentro duma diversidade, o que comer, mas ao tempo a dependência em relação a uma variedade de alimentos para retirar deles as energias que necessita para sua sobrevivência. Desde o ponto de vista dessas duas características contraditórias, o homem procura reduzir os riscos ligados à escolha dos alimentos através da cozinha.

A mudança de hábitos alimentares e em particular a ansiedade pelos alimentos "modernos" constitui um aspecto crítico nos países em desenvolvimento. A esse propósito, Sidney Mintz (2001: 8), em seu ensaio sobre comida e antropologia, comenta que "os povos africanos e latino-americanos parecem ansiar pela mesma dieta, e parecem prontos a adotá-la, se surgir a oportunidade".
Tendo em conta o quadro histórico e as recentes transformações em Moçambique, é difícil prever em que medida esta mudança dos hábitos alimentares vai consolidar-se. Deve-se realçar, por outro lado, que é interessante observar como, apesar dessa tendência de transformação dos hábitos alimentares, alguns aspectos culturais associados aos alimentos permanecem na consciência e práticas da população moçambicana. É o caso da valorização da comida para evocação dos antepassados, que não muda nem mesmo nas grandes cidades.

Aliás, esta evidência representa a contradição e o dilema da cultura moçambicana na contemporaneidade. Em nível político, aparentemente ainda não há uma coerência entre o discurso e a prática. Por exemplo, dado o contexto histórico e a diversidade de línguas maternas em Moçambique, o País foi recomendado pela UNESCO para desenvolver um sistema de ensino fundamental baseado nas línguas nacionais. No entanto, apesar de se ter consciência sobre a importância de tal processo para o desenvolvimento do ensino no País, parece haver ainda alguma relutância em levar a sério tal projeto. É de salientar que depois que o País tornou-se independente, houve uma preocupação política de valorização da cultura.

A educação alimentar e a direção de transformação para valorizar as comidas nacionais exigirão certamente um esforço de toda a sociedade moçambicana, incluindo governo e a sociedade civil, na conscientização da população sobre os bons hábitos alimentares. Aliás, comer bem não é apenas comer o que é dos outros (dos brancos, como comumente designado em Moçambique), mas também - e principalmente - a valorização das comidas tradicionais.

Por outro lado, geralmente as políticas que promovem o acesso à alimentação tratam a questão em termos de disponibilidade (produção), dando pouca importância às mudanças alimentares, às percepções, às representações, aos gostos e às práticas associadas à alimentação. Então, uma mudança efetiva na consideração das comidas nacionais deve contemplar uma abordagem multidisciplinar do consumo. Nas palavras de Oliveira e Thébaud-Mony (1997:207), a busca da análise multidisciplinar torna-se, portanto, ainda mais necessária para a interpretação da evolução dos hábitos alimentares, apesar das dificuldades metodológicas, sobretudo para compreender os fatores implicados e, em seguida, definir estratégias e mecanismos de ação nesta área fundamental que envolve a alimentação e a saúde pública.

sábado, 16 de agosto de 2014

AULA 25: ESTUDOS DE CASOS DA PRÁTICA DA HORTA CASEIRA E ESCOLAR

6. ESTUDO DE CASOS
(Capítulo 6 do Módulo 4 da Apostila do Curso de Agricultura Natural)

Na Escola Secundária Samora Machel, periferia de Maputo, iniciamos nossas atividades com 10 turmas de 8ª. classe, num total de 650 alunos, que receberam formação em Agricultura Natural ao longo de todo o ano de 2011.

Apesar das inúmeras dificuldades encontradas, o trabalho deu excelentes resultados. No início não conseguimos avançar muito na confecção de canteiros pois a escola não possuia nehuma árvore plantada em sua área. Nosso viveiro de mudas chegou a oferecer mais de 100 mudas de árvores que, juntamente com outras tantas mudas oferecidas pelo Ministério da Coordenação Ambiental de Moçambique, compõe hoje um verdadeiro parque de reflorestamento naquela escola. Porém, a falta de matéria orgânica necessária para produzir o composto orgânico a ser utilizado nos canteiros levou-nos a promover uma verdadeira campanha entre os próprios alunos. Todos foram incentivados a trazer de casa folhas, galhos e restos de podas para produzirem o próprio composto na Escola. Dessa forma, todos eles puderam perceber a importância da matéria orgânica e das próprias árvores por eles plantadas na escola que iriam fornecer essa matéria orgânica no futuro.

A Escola desenvolveu uma grande horta de onde saíram produtos que chegaram a serem expostos em algumas feiras da cidade. Produziu grandes quantidades de morango e ficou conhecida na sua região como a Escola do Morango. Foi realizado nesta escola o nosso primeiro Curso de Formação de Professores no Ensino e Práctica da Agricultura Natural, onde participaram professores de mais 4 escolas. Esse projeto também gerou frutos levando um dos alunos a tomar a decisão de fazer um curso técnico em agropecuária.

Os alunos da escola se empenharam em praticar os ensinamentos da Agricultura Natural e cultivar em suas casas, tendo sido implantadas e consolidadas mais de 190 hortas caseiras.


Horta da Agricultura Natural da Escola Secundária Samora Machel.



Na Escola Arco-Íris, foram selecionados alunos da pré escola, na faixa de 4 a 5 anos de idade. Uma pequena turma de 26 alunos, liderados pela psicóloga da escola, implantou uma pequena horta nos fundos do terreno onde está localizada. Nossos colaboradores são unânimes em dizer que a animação na prática da Agricultura Natural daquela turma de pequeninos é de longe a mais contagiante. De fato, dos 26 alunos que participaram das atividades, 21 deles implantaram suas hortas caseiras e a maioria a partir de suas própras iniciativas. Desde muito cedo já estão a praticar a Agricultura Natural e aprendendo o verdadeiro significado de cultivar conforme as Leis da Natureza.



Horta da Agricultura Natural da Escola Arco-Íris.


As atividades de Agricultira Natural foram iniciadas no Instituto Industrial de Maputo no ano de 2013 com a participação de professores, alunos e funcionários da escola. A horta foi desenvolvendo-se aos poucos e ganhou total apoio da diração da escola no sentido de disponibilizar, espaço, material, sementes e horas-extras de funcionários para a dedicação exclusiva a horta da escola.

No mês de agosto do ano de 2013 a escola realizou sua primeira colheita e para isso realizou uma cerimônia, onde estiveram presentes o representante do bairro, a representante do Departamento de Educação do Município e diretores, alunos e professores do instituto. Foi realizado um grande almoço com a colheita da escola, das hortas das casas dos alunos e funcionários, além das machambas das mães dos alunos.

Além disso, os próprios alunos ficaram responsáveis por explicarem, durante o evento, um pouco sobre a Agricultura Natural e seus benefícios.

Após esta colheita foram ainda realizadas pelo menos mais 2 colheitas em 2013. No ano de 2014 a horta foi estendida e alcançou um maior número de alunos. Essa atividade já gerou cerca de 20 hortas caseiras.




Horta da Agricultura Natural e Festa da Colheita do Instituto Industrial de Maputo.


A professora de química Caldina Felisberto Mabjaia não acreditava que uma prática tão simples como a implantação de uma horta caseira baseada na Agricultura Natural pudesse dar algum resultado concreto. Mas resolveu desafiar. Começou por plantar em vasos, apesar de possuir quintal em casa. Os resultados logo apareceram e ela começou a comprovar a eficácia do método e a diferença na qualidade dos produtos da Agricultura Natural. A partir daí não parou mais. Conseguiu terrenos onde implantou machambas e estendeu a prática da Agricultura Natural. Hoje já possui três áreas em que vem privilegiando o cultivo de espécies localmente adaptadas como a mandioca, batata-doce, o milho, etc. Inicialmente a ideia era atender apenas as necessidades alimentares da família mas, como a produção vem aumentando consideravelmente, ela já pensa em iniciar um negócio de fornecimento de produtos da Agricultura Natural. Além disso, é uma das responsáveis pela Horta da Unidade Religiosa da Igreja Messiânica Mundial de Moçambique no bairro do Malhazine e uma das responsáveis também pela Horta do Instituto Industrial de Maputo.



Hortas da Agricultura Natural coordanadas pela Profa. Caldina.


No Instituto Industrial 1o. de Maio iniciamos as atividades com a Horta Escolar Natural no ano de 2011, sendo que já atendemos cerca de 400 alunos com essas atividades, tendo iclusive vários deles iniciado hortas em suas casas. No ano de 2013 realizamos um curso de capacitação de professores com a participação de 10 professores, dos quais 3 já tinham hortas caseiras da Agricultura Natural em suas casas. Após o curso muitos expandiram suas hortas e aqueles que não possuiam montaram suas hortas, alimentando suas famílias e com vistas a comercialização dos produtos. Por todas as atividades desenvolvidas nesta escola ela hoje é a anfitriã do Curso de Agricultura Natural em Moçambique com 30 alunos inscritos.



Horta da Agricultura Natural do Insituto Industrial 1o. de Maio, anfitrião do nosso Curso de Agricultura Natural.

Poeta, escritor e voluntário no programa de expansão das hortas caseiras em Moçambique, Chagas Levene começou a sua horta no final de 2011 com algumas poucas mudas de morangueiro. Pela adaptação da variedade da planta cultivada atualmente pelo programa de Agricultura Natural da Africarte em Moçambique, rapidamente ele conseguiu reproduzi-las e, além do próprio fruto, hoje já é considerado um pequeno fornecedor de mudas, podendo ser essa uma fonte de renda alternativa para a família. Contando com a ajuda de familiares, rapidamente estabeleceu um sistema de produção de mudas de morangueiros num espaço de aproximadamente 50 metros quadrados que o tem ajudado a difundir o trabalho com as hortas caseiras na periferia da capital Maputo. É importante ressaltar que, como o número de fornecedores locais de morangueiros na região ainda é muito pequeno, já há uma considerável procura por suas mudas.



Produção de mudas de morangueiros do Sr. Chagas levene.



AULA 24: USO DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NA HORTA

5. USO DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NA HORTA

(Capítulo 5 do Módulo IV da Apostila do Curso de Agricultura Natural)

Todos os dias geramos lixo: é a embalagem do arroz, a casca do tomate, a sacola de compras, o pacote de biscoito, os restos de comidas, os frascos de shampoo, a lata de refresco e tantos outros materias que em pouco tempo nossos contentores estão transbordando.

Alguns poucos privilegiados moram próximos a contentores onde podem deitar o lixo, ou em lugares onde a recolha do lixo é feita regularmente. Para essas pessoas é mais fácil tirar o lixo de suas casas e transferir o problema do lixo para outros lugares.

Tirar o lixo de dentro de nossas casas não quer dizer que ele deixou de existir: ele simplesmente foi transferido de lugar e os problemas relacionados a sua existência vão cotinuar existindo. 

Enquanto isso, muitas pessoas possuem condições de cultivar alimentos em casa mas alegam não possuirem ferramentas ou que essas possuem custos muito elevados. Outras dizem que não têm como adquirir as ferramentas ou vasos para o plantio. Para tanto gostaríamos de demonstrar que com a adaptação de materias que descartamos no dia a dia podemos confeccionar ferramentas que podem nos auxiliar no cultivo de alimentos. 

Além disso, a reutilização e reciclagem de materiais diminui consideravelmente uma situação crítica: a grande quantidade de lixo acumulada nas ruas das cidades sem destino adequado. 
É claro que antes de pensarmos que vamos resolver a situação do lixo com esse processo precisamos ter em conta a necessidade de reduzirmos o lixo que geramos e isso inclui escolhas mais sensatas na hora da compra e avaliação da necessidade de compra de certos produtos. Precisamos avaliar se é realmente necessária a compra de certos itens e se é realmente necessário a utilização de todas as embalagens que utilizamos em determinados produtos.



Uso de caixas de ovos e garrafas de refrescos (ou outros recipientes) como sementeiras de mudas

Para fazermos as sementeiras com caixas de ovos só precisamos furar o fundo das células para permitir o escoamento da água, enchê-las com terra misturada a composto orgânico e semear uma semente por célula. Quando as sementes atingirem o tamanho adequado para o transplantio, só precisamos retirá-las e plantar no local definitivo. 

Para as sementeiras feitas de garrafas de refresco, precisamos cortar sua lateral, furar a parte que ficará para baixo, preenche-las com terra misturada a composto vegetal e semear as sementes de acordo com o espaçamento de cada espécie para facilitar o transplantio posteriormente. Quando as mudas atingirem o tamanho adequado para o transplantio é só realizá-lo.



Pás feitas de garrafas de refresco

As garrafas plásticas de refresco são muito versáteis e podemos utiliza-las para vários fins. Para a fabricação de pás podemos, por exemplo, cortar a parte de cima de uma garrafa transversalmente, aquecê-la um pouco para dar firmeza a extremidade e temos pronta nossa pá. Assim como vemos nas figuras abaixo.


Irrigação

Para a rega de mudas de árvores podemos utilizar garrafas plásticas com um furo na base e um cotonete introduzido no furo, sendo a velocidade do gotejamento controlada pela abertura da tampa da garrafa. 

Para a irrigação de hortícolas, furamos a parte de cima de uma garrafa pástica com uma agulha fazendo furinhos bem pequenos por onde sairá a água. Para a irrigação, enchemos a garrafa com água e quando chegamos ao sítio que precisa de rega, viramos a garrafa e a água sairá pelos furinhos. 

Para a rega de hortícolas podemos também usar uma sacola plástica com pequenos furinhos que funcionarão como um regador.


Vasos de plantas

Para o plantio de pequenas hortas em apartamentos ou mesmo em quintais podemos utilizar uma infinidade de materiais para a confecção de nossos vasos, como podemos observar nas fotografias abaixo. 

Para isso basta utilizarmos nossa criatividade e colocar mãos a obra. Experimentar é o verbo adequado aqui. Algumas experiências não darão certo mas não devemos desistir. A insistência e persistência são palavras chave para podermos produzir nosso próprio alimento em pequenos espaços. 

Precisamos lembrar sempre que é necessário fazer furos para a drenagem da água no fundo dos recipientes, colocar pequenas pedrinhas no fundo, ou outro material, para garantir a drenagem da água e impedir que a terra feche as saídas de água.

É bom lembrarmos também que é necessário sempre acrescentar composto aos vasos para que posssamos ter boas colheitas. 

Inove, use garrafas plásticas, tubos plásticos de construção, potes de sorvetes, bacias e outros recipientes que já não use mas que possam ser aproveitados para a horta.


AULA 23: AGRICULTURA VERTICAL

4. AGRICULTURA VERTICAL

(Capítulo 4 do Módulo IV da Apostila do Curso de Agricultura Natural)

Quando falta o espaço para o plantio podemos lançar mão de técnicas de agricultura vertical utilizando suportes, paredes, muros ou cercas para a fixação de vasos, sacos, caixotes e outras estruturas de fixação. 

É sempre bom levarmos em conta que precisamos diminuir o peso da nossa estrutura de plantio já que é preciso verificar o peso suportado pelo nosso suporte. Para isso, ao planejarmos nosso espaço, devemos escolher recipientes de plantio leves. 
Para o uso de vasos e floreiras é importante termos alguns cuidados básicos no seu preparo e manutenção como aqueles que apresentamos no esquema abaixo.
Em virtude do espaço de plantio ser menor, recomenda-se que seja observada uma boa distância de colocação das mudas para que elas não fiquem “sufocadas” na floreira. Os cuidados com a horta em floreira são os mesmos de um canteiro externo: tem que receber luz pela manhã, ou se não for possível durante algum período do dia, que de preferência não seja o período mais quente, o solo precisa estar protegido por uma fina cobertura de capim picado ou folhas secas e a umidade do solo tem que ser mantida. 
No caso de usarmos estruturas de plantio maiores, ou plantas das quais vamos fazer colheita das raízes ou tubérculos, é dificil ou não adequado fazermos a adição de composto. Dessa forma, quando formos preparar a terra para o plantio devemos aumentar a quantidade de composto, fazendo uma mistura de 50% de terrra e 50% de composto na preparação dessas estruturas. 
Para o cultivo vertical podemos utilizar vários materiais, métódos e tipos de estruturas. Para cada espaço, cada tipo de cultivo e cada agricultor um tipo de agricultura vertical será mais adequado. 
Podemos utilizar estruturas de canos de construção, esgotamento ou drenagem de águas para o plantio de vegetais verticalmente. Para isso precisamos preparar inicialmente os tubos com furos que permitam fazer o plantio nas laterias como podemos observar nas fotos abaixo. Lembramos que como são estruturas grandes, onde será dificil fazer manutenção e adição de composto, precisamos utilizar grandes quantidades deste na preparação dos tubos. É interessante também lembrarmos de acrescentar um pequeno tubo de rega perfurado no centro do tubo antes de enchermos com terra para que possamos facilitar a chegada da água de irrigação em toda a altura do tubo.
O uso de sacos de ráfia utilizados para o armazenamento de farinha ou arroz também é muito interessante. Como podemos verificar nas fotos abaixo, dependendo da cultura agrícola, podemos multiplicar nossa área de cultivo por até 9 vezes. Assim um único metro quadrado pode receber o numero de plantas que, convencionalmente, seriam plantadas em 9 metros quadrados. 
Além disso, este tipo de estrutura economiza enormes quantidades de água, chegando a uma taxa de 80% de economia de água.
Após um período de cerca de 1 mês após os primeiros plantios precisamos acrescentar mais composto e a partir daí, mensalmente, precisamos repetir essa prática para que nossas plantas possam se desenvolver adequadamente. 
Os vasos podem ser pendurados nas paredes, muros, ou grades utilizando para isso grampos, ganchos, arames, parafusos ou outras estruturas de apoio que possam ser úteis.